Lelé e os passarinho
(Carlos Pedala)
- Piu!
- Piuuu!
- Piuuuuuu!
No outro cômodo, a mãe pensa: Lelé acordou, está na hora do papá.
Lelé é ativa, agitada. Menina
diferente. Inventa e reinventa histórias. Nasceu de um ovo de passarinho. Foi
encontrada caída na calçada. Caiu do ninho.
Constituída da etérea matéria das nuvens, da esperança e da
vontade de ver o opaco sorrir. Pedra fechada em si mesma. Merecia consideração.
Ela era assim, desde pequena. Mania de ficar calada.
Imaginando, roendo pensamentos. Avoada.
Gostava de meditar torto, exercício de liberdade. Aprendendo
livre ser livre. Não pretendia concertar o vazio do infinito. Dizia coisa sem
sentido. Sem pé nem cabeça.
Há necessidade de treinar, exercitar: andar pra trás, ver no
escuro, ir com o vento, falar pra dentro, sonhar acordado e cantar dormindo;
toda assim, esquisita.
Lelé, acreditavam, era de veneta. Na verdade, aprendeu a
falar imitando os passarinhos. Certo dia acordou fada. Voou e posou num galho
de árvore. Contou histórias de amor pros amigos.
Encantados, os passarinhos a ouviam como se fosse chocolate
derretido. Alimentavam-se das palavras. Gostavam dela através do diferente.
Pegaram mania de pessoa. Passaram a viver sonhos.
Afoitos chegaram mais perto de Lelé. Extasiados com o hálito
dela. Hipnotizados pela fada de palavras doces. Palavras tão doces que tornavam
o amor palpável...
Fim.
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