sábado, 4 de maio de 2013

ESTUDOS SOBRE LIMITES


ESTUDO SOBRE LIMITES 

(OU A ÚLTIMA CANÇÃO PARA PEDRO NIKOLAY)  
(Marcus Vinícius Quiroga)



Nem toda vida é uma pista

Nem todo ciclista é um alvo

salvo se estiver com o coração tão leve

                          que não pese na paisagem



Nem toda esquina é abismo

mas muitos corpos caem

na faixa preferencial da morte

       e são levados para a sala de estatística

                   e fotografados com a fisionomia de espanto

Lavado o sangue

                a pista é reaberta

                a outros corpos que se movimentam

                             sobre as rodas da utopia



Nem todo depoimento tem medo

Nem toda investigação é falha



No cedo da manhã ciclistas exercitam

a solidariedade

e aprendem com o vento

                                    o itinerário do devir



Nem toda freada é brusca

Nem toda indiferença é presa em flagrante

Um borrão de ferro interrompe

a busca

o ciclo do desejo

a 500 metros da faixa do encontro

                    e um vulto se projeta longe

suspenso no ar

                    como um pássaro permanente



Nem toda perícia identifica

a esperança desfeita

no rasto do pneu que se rasgou

              Nem toda hemorragia estanca

              e as mãos não retornam ao guidom

              esparramadas para sempre no asfalto



O cinegrafista amador

                    captou o instante

em que o ciclista em um salto

            ultrapassa a faixa exclusiva                                  

            e se esconde em uma nuvem sobre a orla



Nem todo corpo que morre

morre em circunstâncias suspeitas

          Nem toda roda range reincidente

Ocorre que a vida (não a morte)

é que talvez seja

        um acidente                                                  


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