ESTUDO SOBRE LIMITES
(OU A ÚLTIMA CANÇÃO PARA PEDRO NIKOLAY)
(Marcus Vinícius Quiroga)
Nem toda vida é uma pista
Nem todo ciclista é um alvo
salvo se estiver com o coração tão leve
que não pese na paisagem
Nem toda esquina é abismo
mas muitos corpos caem
na faixa preferencial da morte
e são levados para a sala de estatística
e fotografados com a fisionomia de espanto
Lavado o sangue
a pista é reaberta
a outros corpos que se movimentam
sobre as rodas da utopia
Nem todo depoimento tem medo
Nem toda investigação é falha
No cedo da manhã ciclistas exercitam
a solidariedade
e aprendem com o vento
o itinerário do devir
Nem toda freada é brusca
Nem toda indiferença é presa em flagrante
Um borrão de ferro interrompe
a busca
o ciclo do desejo
a 500 metros da faixa do encontro
e um vulto se projeta longe
suspenso no ar
como um pássaro permanente
Nem toda perícia identifica
a esperança desfeita
no rasto do pneu que se rasgou
Nem toda hemorragia estanca
e as mãos não retornam ao guidom
esparramadas para sempre no asfalto
O cinegrafista amador
captou o instante
em que o ciclista em um salto
ultrapassa a faixa exclusiva
e se esconde em uma nuvem sobre a orla
Nem todo corpo que morre
morre em circunstâncias suspeitas
Nem toda roda range reincidente
Ocorre que a vida (não a morte)
é que talvez seja
um acidente
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