segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

PLENITUDE


Plenitude
(Carlos Pedala)

Esse pequeno espanto
Entre mim e o meu canto
esse hiato
Entre mim e o meu pranto

Esse vão aberto entre eu
E o que entendo ser
Esse conjunto
Múltiplo e unitário

Combustível e chama
Abismo e cume
Esse em não ser coisa alguma
Nem mesmo pluma

Essa antimatéria em mim
É isso o que me diz
Agora
identidade plena

ARRUMAÇÃO


Arrumação
(Carlos Pedala)

A mulher quer arrumar a casa
Cisma em mexer nos livros
Eu a me arrastar em manhãs
Metido na poesia
Sem tempo pra o que é útil de fato
Mas não me entrego sem luta
Mesmo que vã
É o preço
Por insistir nisso
Até que vencido
Levanto-me
Ela varre o lixo
Acumulado
Nem liga para o que faço
Se poesia ou fado

PARA SEMPRE


Para sempre
(Carlos Pedala) Para Dona Lucimar Silva

A família morava em Irajá
Foram de carro passar o Réveillon na Praia
No caminho para Araruama
Deus chamou o pai, a mãe e o irmãozinho
Ela ficou sozinha, machucada, em lugar estranho
Lucimar não tinha nada a ver com essa história
Fora levar o filho com suspeita de dengue
Ao encontrar a menina
Seu coração foi tocado
Não saiu mais do lado da garota
Ficou ali
Para sempre... 

VERSO


Verso
(Carlos Pedala)

O que faço
Não é o certo
o que faço
é o que faço
É
Verso 

METÁFORA


Metáfora
(Carlos Pedala) Para Gilberto Gil

A metáfora é a meta do poeta
Lata é metáfora
A lata é meta
Lata contem o contido
O contido é conteúdo
O conteúdo é tudo
Tudo é conteúdo
Mesmo o vazio é conteúdo
Pois vazio é tudo
Tudo é vazio em certo sentido

Lata é metáfora da indústria
Lata é metáfora da sociedade de massas
Lata é o sem carinho
Lata é a lataria
Lata é o vil metal
Lata é o mal americano

Só no Rio de Janeiro a lata pode ser verão
O verão da lata
Da lata que vem boiando


A lata é onde caberia o incabível
na palavra cabe até o impossível
A palavra é lata
De modo que nada fica de fora da lata,
nem o impossível
Talvez, algumas palavras ficariam fora
Algumas maliciosas palavras
Cheias de duplos sentidos e intenções
As inconcebíveis
As metáforas

domingo, 30 de dezembro de 2012

SIMPLESMENTE


Simplesmente
(Carlos Pedala)

O apartamento completo está sendo limpo
amanhã é réveillon
vai ficar um brinco
vamos receber amigos
e passar juntos mais um ano
enquanto for possível
permaneceremos na expectativa
admirando o mistério
(sendo)
desejando saúde
felicidade
alegria
simplesmente
e as mais simples manhãs... 

E EU


E eu
(Carlos Pedala)

Hoje, como eu já dizia (em outro poema)
Eu vinha
Pela ciclovia da Enseada de Botafogo
Mas na minha cabeça não havia nada
Eu apenas vinha
Talvez o excessivo calor e a glicose baixa
O vazio companheiro
O pensamento limpo por inteiro
Algumas gaivotas voam ao lado
Fui então que vi
Como em uma obra de Vik Muniz
a onda de detritos
E outras mais ondas de lixo
Em meio aos peixes, aos pássaros, aos barcos
Ao céu, às nuvens, ao vazio

a onda de detritos
e eu.



NÃO DEVERIA


Não deveria
(Carlos Pedala)

Eu vinha de bicicleta
Eu vinha
Pela Enseada de Botafogo
Eu vinha
A cabeça estava vazia e eu vinha
Nem pensamentos leves eu tinha
Eu apenas vinha

Voavam gaivotas ao meu lado e eu vinha
Foi quando eu reparei na onda que a maré trazia
Era uma onda de objetos descartáveis
Como se já não poderia
E eu vinha

Pensei em algo equivocado
Aos pés do Pão-de-Açucar
Ao sul do Corcovado
Eu vinha

E uma voz muito simples me dizia
Essa maré de objetos descartáveis
Não deveria estar ali,
não deveria

NA BEIRA DO MAR



Na beira do mar
(Carlos Pedala)

A multidão atenta atravessa a pista
pra se banhar na beira do mar
O mundo quer um pedaço do mar
Nada de bobeira na beira do mar

Madureira, Cascadura, Vila-vintém
Tudo bem na beira do mar
Tudo Zen na beira do mar
Na beira do mar

O Rio de Janeiro vem pra beira do mar
Vem ser na beira do mar
Ser na beira do mar
na beira do mar

Todo rio vem pra beira do mar
Inteiramente desaguar na beira do mar
Verdadeiramente amar na beira do mar
Na beira do mar

O Rio de Janeiro na beira do mar
Completamente exposto Rio de Janeiro
Nu de corpo inteiro na beira do mar
Na beira do mar

Frisson e réveillon na beira do mar
te olhar e te ver quase nua na beira do mar
Na beira do mar amar, amar, amar
Na beira do mar
do mar

FESTA DE IEMANJÁ


Festa de Iemanjá
(Carlos Pedala) Para os Bombeiros do Rio de Janeiro

A fé em Iemanjá
A manifestação da fé
Essa gente de branco a festejar
Na festa de Iemanjá

Ali do lado um acidente
Grave, ninguém se feriu
A fé ali pra se mostrar
Na festa de Iemanjá

Aquele que não acredita
Aquele que nunca sorriu
E aquela gente lá, viu
Na festa de Iemanjá

Até quem não aprecia
O festejo popular
Viu o milagre acontecer
Na festa de Iemanjá

E todos aqueles homens
Homens valentes saindo do mar
E toda aquela gente a festejar
Na festa de Iemanjá

sábado, 29 de dezembro de 2012

IEMANJÁ


Iemanjá
(Carlos Pedala)

Era dia de Iemanjá
Ninguém vai se afogar
Ninguém vai se afogar

De repente
O céu meio que se abriu
O helicóptero do Bombeiro pousou
no meio do mar
Todo mundo viu

O céu rachou
O céu meio que se partiu
E o aparelho pousou

ao lado da imagem de Iemanjá
de vários baba orixás
todo mundo socorreu
O helicóptero que caiu no mar

Ninguém vai se afogar
Ninguém vai se afogar
no meio do azul do mar

No manto azul de Iemanjá
o povo rendeu palmas para os
Resgatados de lá
Ninguém vai se afogar
Ninguém vai se afogar

POR DEMAIS HUMANO


Por demais humano
(Carlos Pedala)

Há o fugaz em tudo
rápido como o que jaz
substrato

Tal como o ano passado
Então, projeto-me pro futuro, pro vindouro
E pra esse novo vou estar preparado
Passarei todo de branco
Nada de moleza
Nem ilusão nem engano
é rápido demais, demasiadamente
Quando se vê, já se foi

É rápido demais, é liso, é plano
E como tudo que há em mim
É por demais humano

COMPRAS


Compras
(Carlos Pedala)

Saem na madrugada para fazer compras
Os amigos do filho chegaram
Não há nada para lhes oferecer
A noite é quentíssima
É o verão carioca
Poucas pessoas na rua
Além do medo
No Pão-de-Açucar (Marquês de Abrantes)
Surpresa!
Encontram os produtos a lhes esperar
E outras pessoas
Também
A fazer compras...

QUASE MANHÃ


Quase manhã
(Carlos Pedala)

Ainda é noite
Mas de repente
Os pássaros todos cantam
Sem ninguém avisar
É a entrada do Parque do Flamengo
Rua Rui Barbosa
E nessa hora, o homem tenta ensinar
o outro a andar de bicicleta
É noite ainda
Um mais velho o outro mais jovem
Assim como os pássaros
De repente, eles se beijam na boca
Não sei a você
Mas essas coisas me espantam
Pelo inusitado ou porque acontecem... 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

TOCADA


Tocada
(Carlos Pedala)


O prazer do poeta é o impossível
Dizer o que não pode ser dito
É o sufoco

O seu exercício é o de recolher-se pra dentro
Até aí é fácil de entender
O recolher-se para algo
Mas esse algo é o quase nada de ser gente
Pois que gente não é coisa alguma
A matéria é esse quase nada
É a tecla a ser tocada

Nada, nada, nada, tecla a ser tocada
Nada, nada, nada, tecla a ser tocada

Daí vem poesia que se quer bruta
Pedra de nada
Fundamento infinitivo de ser
Aço inox, diamante, imagem cadente,
Indeterminada, nada, nada, nada
tecla a ser tocada

APENAS


Apenas
(Carlos Pedala)

A poesia não é uma coisa certa
Talvez mesmo apenas um monte de letras
Disposta de uma forma mais correta
Para alguns, coisa de arquiteto
Com melhor qualidade quando feita por músico

Um jogo de luzes
Sem luzes
Nuances do preto e do branco
Efeitos, formas, conteúdos?

Jogo de linguagem
A matéria é fartamente disposta
Imersa
Vindo à tona para o que se mostra
Sendo seu fim último
Mostrar-se por mostrar-se apenas. 

FIM DE ANO


Fim de ano
(Carlos Pedala) Para Fred

Na repartição, vazia
Último dia útil do ano
O colega pousa o teclado
Conta que levou os filhos para ver a Árvore de Natal da Lagoa
Quinta-feira, à noite, é dia de vê-los
Um menino e uma menina
Parou no Parque dos Patins
A iluminação o surpreendeu positivamente, nunca vira a Árvore tão bonita
Ficaram recordando as quintas-sem-lei (é assim que eles chamam)
A comida era liberada, e as “crianças” se fartavam
O menino lembrou-se da vez que quase brigara com um garoto que rira dele (pai) caindo ao tentar andar no skate
Faz uma pausa
O tempo passa
A gente se deseja bom ano novo
E cada um vai cuidar da sua vida

CONTEÚDO


Conteúdo
(Carlos Pedala)

Tudo é conteúdo
Do tempo à bala de chiclete
Tudo é para sempre
Tudo está contido na rede da Internet

Tudo é conteúdo
Do filho ao bisavô
Tudo dentro do computador
Tudo agora é bite

Tudo é conteúdo
É rádio transmissor
O lixo vira ouro
A elite o roedor

Tudo é conteúdo
Veja, professor
Aprenda o que ensinou

Tudo é conteúdo
Inclusive o futuro promissor

DE ONDE VEM


De onde vem
(Carlos Pedala)

Tem que saber de onde vem
De onde vem
De onde vem

De onde vem o mal
Meu bem
Meu bem
Meu bem

Tem que saber de onde vem
De onde vem
De onde vem

Pra saber a culpa é de quem?
De quem?
De quem?

E o bem?
De onde vem?
De onde vem?
De onde vem?

Não vem de ninguém
Ninguém
Ninguém

E pra aonde vai?

PELA MANHÃ


Pela manhã
(Carlos Pedala) Para Genicy

Ela acordou meio viva, meio morta
Fala algo sobre o sonho com seu pai
Reminiscências de moça
Bebe encostada na cadeira
Em um jeito próprio de criança

Eu falo coisas, ela acha graça
Pensa nas providências pra festa (reveillon)

Lá fora, as gaivotas brincam
o imenso iate manobra na baía
a quase neblina se ameaça
sinto o perfume do dia
do pão e da poesia

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

BLUES



Blues
(Carlos Pedala)

As cigarras cantam o calor do Rio
em sombras de alguma árvore
na Rua Rui Barbosa
é bem cedo
elas querem fazer parte da festa
em um breve instante
estarão mortas

enquanto
cantam
eu passo em um refrão mudo

os automóveis também deslizam o seu canto
é a sinfonia do verão carioca
sua arquitetura vai se desenhando
em notas

é ritmo de calor intenso
na conjugação desse céu azul
o som
das cigarras
lembra mais um blues...




BELAS-LETRAS


Belas-letras
(Carlos Pedala)

Abro as janelas
É madrugada no Rio de Janeiro
Lá embaixo, o medo
Mas daqui de onde vejo
Apenas janelas e um morro distante
E esse calor insano
Seria efeito do efeito estufa?
Quem se importa, desde que a rimas sejam feitas
E o verso vire referência
Nas Belas-letras. 

INTEIRAMENTE


Inteiramente
(Carlos Pedala) Para Gilberto Gil

O nascer na dor
Apartando-se no nascimento
do puro esplendor de ser em compartilhamento
tornando-se no nascimento rebento
rebentando em dor
de ser só
em meio a tantos argumentos
que não há o menos sentido em ser
e em apenas ser
ser redundantemente em ser
e em não ser motivo
de não ser dor
pois ser e doer são complementos
e não ser seria justamente não haver complemento
sendo assim
não haver seria
inteiramente

A CONSCIÊNCIA


A Consciência
(Carlos Pedala)

Solto na amplidão
Vão aberto
plataforma e pista a descoberto
confins do infinitivo pulo
salto triplo eterno

jogo, anteparo, muro
sou para mim
reflexivo mesmo
por mais longe que eu vá
chego muitíssimo perto e não alcanço

sendo instantânea
a volta
Eterno fluxo
consciência
de ser em ser assim
eternamente fim...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

EM MIM


Em mim
(Carlos Pedala) Para Evandro


Apenas existir assim
O luar em mim
Em rimas tão simples como eu
Eu e céu, e céu, e céu

O luar nele em momentos
lembra meu irmão
Quando era mais novo do que eu
Quando mais novo
É ele é mais novo do que eu
Do que eu
Do que eu
E eu?
Do que eu
Do que eu
Mas novo assim do que eu
O que há em mim é mais novo do que eu
Esse existir assim
Referenciais sem fim
onde o eu se perdeu ao cair em mim
se perdeu ao cair em mim,
em mim, em mim
em mim

e esse luar no céu
lembra meu irmão
quando mais novo do que eu

FLUTUAR LEVE


Flutuar leve
(Carlos Pedala)

O céu leve e azul flutua suspenso na janela
Onde flutua a lua branca de neve
As nuvens leves flutuam no azul
E as gaivotas leves flutuam sobre a Baía de Guanabara
E o leve veleiro também flutua nas águas da Baía
O vento leve ar flutua
Onde meu pensamento leve (o mais leve)
Flutua pela janela, pela Baía e o azul do céu
E do céu leve a Terra leve é azul leve e flutua leve
E o azul leve do céu flutua no azul do céu leve
E tudo é tão suave e leve
E tudo flutua leve
Flutua feito o leve
Suave e leve
Flutua
Leve  



SERÁ



Será
(Carlos Pedala)

De dentro de mim vejo a lua
Chamo você pra vê-la
é à tarde
e a tarde a cair sobre a baía

A lua tem outro planeta,
É lágrima, é pétala
é outro planeta

é de tarde em outro planeta
é a lua em outro planeta
é eu e você vendo a lua e outro planeta

o que ela revela
É ela, é ela, é ela

É luar em outro planeta
É luar, é luar, é luar
E será...

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

FULIGEM


Fuligem
(Carlos Pedala)

Por muitos anos
Por essa época de festas
Especificamente no Natal
Quando criança, torcia para que a neve caísse
do céu de dezembro, no Rio de Janeiro
As frustrações aconteceram
como era de se esperar

Hoje, leio na Web que uma fuligem misteriosa
e branca se precipitou sobre alguns bairros da Cidade
Centro, Glória, Leblon, Copacabana e Flamengo
não notei (pena)

ninguém sabe dizer o que é
se foi nuvem da erupção no vulcão do Chile
ou se fuligem de fumaça do incêndio em Caxias
ninguém sabe

se tóxica ou se benéfica
ninguém sabe
por incrível que pareça
ninguém pensou em
neve...


PASSARINHO VERDE


Passarinho verde
(Carlos Pedala) Para Maria Stela Barros Menezes e Carlos Menezes (in memorium)

Era dia de Natal  de 2012
A Mãe resolveu mostrar de novo os retratos do casamento
Ocorrido em 1961
Na hora do beijo sacramentando a união
Tio Orlando, ao fundo, diz:
- olha o passarinho verde!
E todos, na fotografia, têm o olhar fixado em outro ponto,
parecem não ver o beijo (beijo de língua)
Que meus pais continuam troncando desde então
Ela me conta essa mesma história se divertindo
Há muitos anos
Desde que eu era bem pequenininho
Achando a maior graça
(rindo mesmo)
Só agora percebo que também sempre procurei
o passarinho verde
e como os do dia da foto,
nunca vira o beijo
presente ali de modo tão explicito...

DONA CANÔ


Dona Canô
(Carlos Pedala)

O rádio deu:
Dona Canô morreu
Foi o rádio quem falou
E apertou coração meu
Era logo pela manhã de Natal
Não sei o porquê doeu
O eu do meu eu doeu

Do meu eu
Doeu, doeu, doeu

Vai pra Deus Dona Canô
Vai em paz e adeus

Deixe a fé feliz
E até... 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MAR EM MIM


Mar em mim
(Carlos Pedala)

O mar quando toca em mim
O que da janela vejo
É promessa bem mais
que desejo, promessa
de ser em fim tudo quanto
dele vejo em ser ele pra mim,
fim em seu próprio fim

o  mar quando toca em mim
é onda dentro do tempo
do tempo que não vejo e que
reconheço em mim, como o
mar quando toca em mim
desejo de ser assim, sem fim

ser a fim do ser sem fim que há
em mim, esse é o mar quando
toca em mim, meio, começo, mim
o mar quando toca em mim
por inteiramente assim, o mar
quando toca em mim...

NATAL


Natal
(Carlos Pedala)

Fico quieto pra que por si
o silêncio fale
feito a voz do meu filho
ao perguntar o que é o Natal
pra mim.

Ele me ensina que as cores
do Natal de hoje foram
inventadas pela Coca-Cola
bem como todo esse consumo

eu fico mudo
e digo que o Natal é ele
pra mim
e isso tudo. 

domingo, 23 de dezembro de 2012

COPOS


Copos
(Carlos Pedala) Para a menina dos copos em cima da mesa

Certa vez, conheci uma menina
de beleza e alegria incomum
que na vida nunca tivera moleza
havia copos em cima da mesa

o tempo vai passando e cobra o
preço, os sonhos vão morrendo
os copos estão vazios em cima
da mesa, e os copos lá estarão

os copos acima do casamento
as divisões do tempo dos copos
as tristeza da solidão dos copos
e as confusões da união dos copos

e os copos em cima da mesa
e os brindes em copos vazios
e os copos cheios de rancores
tristeza e solidez da solidão

dos copos de cristais e dinheiro
os copos de infinita beleza
e ninguém lava os copos em
cima da mesa, lá eles são

apenas copos e copos em
cima da mesa, os copos
os copos em cima da mesa
sempre os copos em cima da mesa