domingo, 27 de julho de 2014

Valquíria
(Carlos Pedala)

veio de dentro da noite
o vento
farol de ilha
a contar-me teus segredos
tuas pinturas
tintas jorrando pelos dedos
no amanhecer cheio de cores
abrir janelas
céu de estrelas
flores  
do outro lado
o não dizer nada aos medos
falamos
música pra os ouvidos
e se simples murmúrios
onda do mar nos rochedos... 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

pálpebras
(Carlos Pedala)

as pálpebras pesam
pesam tanto
que querem pausar
não suporto mais carregá-las
nem sei onde as deixar
já bebi café
deve ser o cansaço
de que tantos falam
quando não têm do que falar
mas existir é esse silêncio
de não conseguir se calar...  
referências
(Carlos Pedala)

o silêncio é um não lugar
onde frequentemente voltamos
esse não lugar
diz coisas sussurrando
se os outros estiverem dormindo
embora possamos
adivinhar o andar das horas
pela constância e velocidade
do som dos pneus dos automóveis
roçando o asfalto
(no dizer dos intervalos)
se bem que
os relógios digitais
estão a qualquer momento
prontos a demostrar
em que ponto da vida nos encontramos... 

sábado, 19 de julho de 2014

desintegração
(Carlos Pedala)

desintegrou-se o avião
o míssil enganado
o recado
e o que era gente
num instante
eram corpos no chão
e as almas
por onde se espalharão?

sexta-feira, 18 de julho de 2014

no jardim
(Carlos Pedala)

de repente
esse silêncio
nem mais uma rima fácil
ser absoluto
nem mais um verso inútil
nada além do nada que acontece
pedra estéril onde nada nasce
de repente o luto marginal
de repente
esse silêncio acidental
de repente
assim sem hora, assim sem eira,
assim sem fim
de repente tristeza e alegria
feito o casal de mãos dadas  
passeando no jardim... 

sábado, 12 de julho de 2014

Tão ela
(Carlos Pedala) Para Elisabeth Salazar Martins

quando ela foi embora
era tão cedo em mim
tão fora de hora
e se fez a eternidade nela
era aquela manhã
da primeira à última aula
pois ela fora professora primária
ensinou gerações inteiras as letras
tão belas
talvez semeasse flores
e se reconhecesse nelas
mostrando-nos
é plantando gente que a gente colhe
a eternidade agora é ela
e as manhãs serão pra sempre assim
tão ela...


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Massacre
(Carlos Pedala)

a derrota da Seleção Brasileira ontem
foi algo tão cruel
que todos tiveram pena
inclusive os alemãs
é como se a poesia do futebol
tivesse sido atropelada pela razão
a ciência destruiu o improviso e o drible do Brasil
podemos falar em reformulação
podemos procurar os culpados
mas o massacre do Mineirão
demonstrou como a eficiência cientifica
esmagou a esperança no futebol moleque
do improviso, da criação individual, do inesperado
eles estudaram psicologicamente nosso medo
nosso ponto fraco
que já havia aparecido diante do Chile e da Colômbia
ficaram à espreita
quando ele surgiu de novo (o medo paralisante de perder)
atacaram
e em seis minutos trituram cem anos de futebol arte
Neymar já tinha sido banido da Copa
faltava apenas triturar o resto
e eles o fizeram...

terça-feira, 8 de julho de 2014

antes do jogo
(Carlos Pedala)

há medo antes do jogo
medo de depois do jogo
o que acontecerá?
se a gente perder
se a gente ganhar
então tem esse medo
de como vai ser
do que vai acontecer
após o jogo
se a gente perder
se a gente ganhar...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

de madrugada
(Carlos Pedala)

quando a madrugada permite
acorda dentro dela
pra descrever palavras
tem como companheiros
os sons dos automóveis
que passeiam lá fora
a madrugada é assim
cheia de pressas
e indefectíveis aromas
(gasolina e óleo diesel)
todos os sons vão indo
vozes soltas, sem donos, perdidas
sumindo pra dentro dela
as motocicletas, os ônibus
dá pra distinguir
e dimensionar
o tamanho da escuridão
onipresente,
preste a nos engolir...


quarta-feira, 2 de julho de 2014

na marca do pênalti
(Carlos Pedala) para Thiago Silva

sob fogo
o capitão-zagueiro teve medo
sob fogo
as lágrimas desceram
sob fogo
do chão, do céu, do mundo
brotou unicamente o desamparo
sob fogo
ao olhar a derrota frente a frente
a força se fez ausente
sob fogo, o desespero do guerreiro
sob fogo, o destino na marca do pênalti
sob fogo  
um olhar vago,
a bola e o menino...