segunda-feira, 25 de novembro de 2013

BARRADOS NO BAILE

 Barrados no baile
(Carlos Pedala)

Já fui barrado em bailes
Por não ser convidado
Já fui barrado
Impedido de entrar
Já fui impedido de entrar
Em festas que não queria entrar
Já me mandaram esperar
Pessoas que não conhecia e não teria
Prazer em conhecer
Já fui barrado em bailes
Por não ser convidado
Já fui barrado em blogs
De poesia
Por não saber nada de poesia
Nem saber bem quais
Caminhos percorrer
Guardando assim tristeza
E mesmo que pouca 
É pouca apenas pra mim...   

sábado, 23 de novembro de 2013

DEGRAUS

Degraus
(Carlos Pedala)

Na Rua Paissandu não há silêncio
Nem entre as frações dos carros
Há a pressa espalhada
Entranhada nas linhas arquitetônicas dos prédios
Nas escadas de incêndio
E poucos intervalos entre os degraus
Vãos
E há as palmeiras imperiais
Expectadoras
Pairam em linha
Observam-nos atravessar a rua
Logo pelas manhãs
Sem nenhum silêncio
Cuidadosos com os vãos dos degraus... 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

MAR E MAR

Mar e mar
(Carlos Pedala)

poesia assim sobre o mar
vento no mar
a vagar devagar
mar é onda na areia
é mar
é maresia na beira do mar
na praia o mar é inteiramente mar
no fim o mar é horizonte
e além do mar é céu azul e nuvem
sobre o mar é apenas céu e nuvem
sobre o mar céu azul e estrelas
poesia sobre o mar é mar
e mar é somente mar e mar... 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

REPARTIÇÃO PÚBLICA

Repartição pública
(Carlos Pedala)

Pede-se para não abrir as janelas
Querem corpos e mentes
Apenas
Corpos e mentes presentes
A alma é vaga
É leve
Aqui estamos
Copiando
Repetindo coisas
Tocando letras e letras
Institucionalizados corações
Razoáveis sentimentos
Decretos
Vazios desertos
No prazo curto da vida
Encaixe e de nada
Sobrará nada... 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

REFRESCO

Refresco
(Carlos Pedala)

A gente ganha um bom salário
São os rendimentos do servidor
Cumprir o horário
Fazer o que te mandam fazer
Manter-se acordado durante o expediente
Dedicar-se aos processos
Contando as letras
Ficar focado
Dar bom dia a todos
Rir das piadas do chefe
Discutir os procedimentos apenas para acatá-los
Sem questionamentos
Sem maiores pensamentos
São os deveres
Assim, talvez
Consigamos um refresquinho no fim do ano
E todos se sintam justificados e realizados
Por se acharem melhores que os outros... 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

PELAS JANELAS

Pelas janelas
(Carlos Pedala)

ao voltamos do banheiro
encontramos a todos de cabeça baixa
silêncio dentro da sala
com um pouco de atenção
escutaríamos os pensamentos em seus inesgotáveis fluxos
ouvimos alguém da sala ao lado
talvez o pensamento deles voe mais alto
a calma dura pouco
um carimbo ritmado impõe sua cadência
em um instante
a ideia de perguntar se as coisas poderiam ser diferentes
a resposta parece ser tão evidente
feito o azul do céu
acima do relógio da Central do Brasil 
cismado em entrar pelas janelas... 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

OUTROS OLHOS

Outros olhos
(Carlos Pedala)

Há versos encorajadores
A sua simplicidade em dizer
Abre-nos janelas de pensamento
Não obstante o barulho dos carros
Imaginamos outras conexões cerebrais
Outra vida com mais músicas e felicidades
Como não havíamos pensado nisso antes
Poderíamos convidar aquela colega
(de sorriso lindo)
Para tomar uns chopes  
Vivemos em uma cidade de balas perdidas
Ora, não precisamos negar a realidade
Todavia, certa embriaguez
Faz-nos ver a vida
Com outros olhos... 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CUSTO CONTÁBIL

Custo contábil
(Carlos Pedala)

Vejo as estrelas na escuridão
E tenho certo medo
Do tamanho da imensidão
Será que ainda dá tempo
De fazermos algo significante?
Sim, é um constrangido receio
Veja as rugas em nossos rostos
Os avanços da ciência
E aqueles prédios em construção
Iludem-nos com sua segurança
De certo modo, houve de fato
Uma melhoria técnica do mundo
Os computadores facilitaram as coisas
Mesmo ao custo de queimar certa
Quantidade de cérebros
Tudo tem seu custos contábil... 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

COMPREENSÃO

Compreensão
(Carlos Pedala)

Precisei viver
Quase cinquenta anos
Pra entender
Que aqueles jovens
Que morriam brincando de roleta-russa
Quando jovens
Na verdade haviam dado um tiro na cabeça
E a omissão da verdade
É na verdade
A tentativa desesperada de frear
A dor... 

domingo, 3 de novembro de 2013

NUNCA VAI MUDAR

Nunca vai mudar
(Carlos Pedala)

De novo
Você quer falar sobre essas coisas
Essas coisas de eu e você
Mas já faz tanto tempo

E de novo quer falar sobre essas coisas
De eu e você
De como você foi triste
De como eu te fiz sofrer

E como eu poderia ser de outro modo
Do que sou?
Você não percebe que não dá?
Não dá pra mudar o passado
Que o mundo é assim
Que a vida é assim
Que eu sou assim


E nada nunca vai mudar... 

sábado, 2 de novembro de 2013

EM NADA

Em nada
(Carlos Pedala) Para Carlos Menezes em memória

Heráclito dizia ter aprendido
Tudo consigo mesmo
Algumas pessoas são assim
Sábias por sua própria natureza
Meu pai, no dia de finados,
Quando nos encontrávamos
Dizia assim: - dia de finados!
Dia dos mortos!
Depois, observávamos grande silêncio
Isso aconteceu invariavelmente
Durante anos e anos
Ele (meu pai) se dizia ateu
Hoje só resta o silêncio
E eu imaginando como deve ser a pessoa
Se transformar em nada... 

BALAS E FUZIS

(Carlos Pedala) Para Kayo da Silva Costa

De novo balas
Atravessam a vida
Balas para uma criança
De novo balas
Destruindo sonhos
Encurtando vida
Acabada esperança
De novos balas e fuzis
No solo da pátria mãe gentil
De novo balas
Sob céu azul anil
De novo balas e fuzis...

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

SEM TAMANHO

(Carlos Pedala)

Na madrugada mendiga
Mendigos cultivam baratas
E ratos
Embaixo das marquises
Paralelamente ao vento frio
Esse sopra nas janelas das residências  
Que indiferentemente espiam
E se ressentem do tempo frio
Por essa época na Cidade do Rio
Tempo, tempo estranho
E a alma carrega essa tristeza
Sem tamanho...