domingo, 31 de março de 2013

SABORES


Sabores
(Carlos Pedala) Para Neide e Fabrício

Domingo de Páscoa
Após o almoço
Fomos com amigos ao Tacacá do Norte
Na Rua Barão do Flamengo
Consumiu-se tacacá, na cuia
Açaí sem açúcar
e suco de tapuaçu
Todos estávamos dispostos
A maioria era do Norte
(Amazonas e Pará)
Éramos em quatro
Em breve momento
Vi
Que se saboreavam coisas
Muito além das que estavam
Presentes
Ali 

sábado, 30 de março de 2013

AO CAIR DAS TARDES


Ao cair das tardes
(Carlos Pedala)

Na sala de estar, em frente à TV
Ouço histórias em japonês
Enquanto leio poemas
Publicados em folhas recicladas
De jornal de grande circulação

Lá fora, as palmeiras da Rua Paissandu
Espiam, aguardam, esperam

Lembro-me do verso que deixa
Sem queixa
Em aberto, o momento em que
Penso e tomo a decisão de
Deixar a sala.
(poderia ser o quarto)
Dou o exato primeiro passo
Em direção à porta de saída.

Há sempre o lapso de tempo
Entre o pensamento e a execução
Da ação.
O agir ou não tem sempre consequências.
É nesse livre arbítrio onde mora a liberdade
Em meio ao cair das tardes... 

quarta-feira, 27 de março de 2013

EVIDENTE


Evidente
(Carlos Pedala)

Após trinta e poucos anos
de serviços prestados ao Tribunal
A colega vai se aposentar
Ela é jovem, começou cedo
Convida alguns servidores para um
Bota fora, ali, no Belmonte da Mem de Sá,
na Lapa.
As pessoas vão chegando
É uma conversa informal, regada a chopes
e pasteis, mas tem um quê de burocrático
Até que chega o novo casal,
os boatos sobre o romance já corriam solto
Porém, o mais evidente ainda não se revelará
embora tenha sido sempre óbvio
eles se amam de maneira clara 

domingo, 24 de março de 2013

INACABADA POESIA


Inacabada poesia
(Carlos Pedala)

A palavra deixa de fazer sentido
Quando sai da boca
E cai no mundo
No mundo de ilusão
Clara escuridão
Pântano profundo
Onde se afogam os discursos
Entre homens perdidos disputam a adesão
Tentando com auxilio da astúcia
Recriar o mundo
Baseado na força da imaginação
Palavras vazias
Verborragia
Inacabada poesia...

sábado, 23 de março de 2013

MAÇÃ


Maçã
(Carlos Pedala)

É claro que a forma do poema
Subverte a forma ajustada
A justa medida do esquema

É evidente que o poema
Por ser justo e verdadeiro
Ameaça o que veio primeiro

Ora, é  lógico que o poeta
Incomode muita gente
Só por estar metido em seu fazer

Vivemos num mundo moldado
Na linguagem, a realidade é dada
Ou melhor, reside na língua

Abrir as janelas dessa casa
E deixar o vento adentra seus quartos
Fugir por aquela fresta do telhado

Voar no espaço em vão
Compreendendo a leveza
E sem pretensão de dizer

Do existir de qualquer manhã
Nada de mais verdadeiro
Gostar do gostinho da maçã 

RAP DAS MENINAS DE BICICLETAS


Rap das meninas de bicicletas
(Carlos Pedala)
Para a molecada do 3030 e Vinícius de Moraes

Rio de Janeiro onde lindas
Meninas andam de bicicletas
Entre a maldade da rua
e a brisa do mar

Rio de Janeiro onde belas
Meninas andam de bicicletas
Entre a crueldade da rua
E o clima do mar

Rio de Janeiro onde jovens
femininas andam de bicicletas
Entre a dureza da rua
E a leveza do mar

Rio de Janeiro onde tantas
Belezas andam de bicicletas
Entre as impurezas da rua
E o cheiro do mar

Sendo cria desse berço
Fazer poesia fica
Assim, assim
facim, facim ... 

INTERPRETAÇÃO


Interpretação
(Carlos Pedala)

Gostaria de fazer um verso
Que fosse lido de modo claro
Sem duplo sentido
Que nele não houvesse nada de profundo
Águas de translúcido rio
Sei das questões da linguagem
E dos seus jogos de cena
Do aparecer e se esconder
Do ser e não ser de seu ser
Ou do que nela está contido
Adentro conteúdo
Que é meio
E mundo
Levando sempre a outro viés
Além do que teria havido
Na intenção
Do originalmente proferido... 

sexta-feira, 22 de março de 2013

MEL E AÇUCAR




Mel e açúcar
(Carlos Pedala) Para Paulinha

A chuva te consumiria todinha
Gotinha por gotinha, inha, inha, inha
Mas poderia ser ninho
De tanto carinho
É fácil ficar sozinho
Em meio a zilhões de processos
de onde então surgira aquele abraço
é a pergunta que faço
você diz que veio de lá longe
de dentro dos teus braços
reconfigurando os céus e o universo
perdoemos aos especialistas
é impossível controlar as taxas do sangue
de quem é feita somente de afeto
e esse coração é tão doce
que ao pronunciar teu nome
as letras derretem na boca
sendo tudo em você puro
puro mel
e refinadíssimo açúcar
Se fosse tempo de poetas
Te faria alguns versos
Mas como sabemos
É o mundo hoje dos palhaços
Aceite, assim, essa graça

quinta-feira, 21 de março de 2013

ENIGMAS


Enigmas
(Carlos Pedala)

O tempo é algo que de fato
Não existe
Então, por que nele, às vezes,
Eu me encontro triste?

O instante é algo que de fato
Passa
Então, por que, sempre,
Eu me encontro nele?

O amanhã é algo que não
Chega nunca
Então, por que, lá, penso
Eu me encontrar?

O passado é algo que de fato
Não volta jamais
Então, por que, ele está
Sempre aqui? 

DISPERSOS


Dispersos
(Carlos Pedala)

Ao acordar, penso na matéria
De que é feito o sonho
No instante em que em cima da mesa
A planta brota folhas novas
Enquanto, na rua, o tempo
Nublado dispara a buzina do automóvel
São os pequenos barulhos
Que tanto nos irritam
Os olhos
Que justamente rimam com as ilhas de Abrolhos
E seu farol listrado
Pintado em listras de cobra coral
Desencadeando a preguiça
Ficamos, dessa forma, deitados
Vendo nuvens que passam no céu
Enquanto ao redor o mundo todo
Em ritmo frenético
Imagina-nos dispersos... 

quarta-feira, 20 de março de 2013

MUNDO MODERNO


Mundo moderno
(Carlos Pedala)

Livros eletrônicos
Dão choques elétricos
Que não se esquece
Se lidos debaixo do chuveiro

Assim, seja inteligente no banheiro
Guarde os na cabeceira da cama
E leia antes de dormir
Vestindo rápido o pijama

E se for um livro de poemas
Não se espante nem fique irado
Se entre os versos e rimas
Surgir um link patrocinado

sábado, 16 de março de 2013

VELHO SENHOR


Velho senhor
(Carlos Pedala)

No prédio em frente
O velho senhor olha pra baixo
Pra rua
Ele apareceu quase nu
Na janela
E olha pra rua
O que ele vê?
O que ele procura?
Será que ele pensa
Em nossa existência?
Será que ele tem a barriga vazia?
Ou apenas olha os carros que passam
Sem maiores consequências
Sem fazer ideia das ideias que daqui exalam.. 

sexta-feira, 15 de março de 2013

TÚMULO ABERTO


Túmulo aberto
(Carlos Pedala)

Por que é em mim
Essa conexão sem fim?
Por que onde havia poesia
Agora é essa terra úmida
Sem flores?

Restou o barulho dos carros
Bem como o bater do martelo
No concreto que resiste
Em ser no seu modo triste
De ser duro e elo

Finalmente, quando se abriu o túmulo
Havia apenas ossos e cabelos
No que fora pernas e braços
Nem um soluço dali saiu
E a palavra que ali habitava
Partiu

Curioso, olhei para os céus
Para ver se via ou ouvia
Mínimo rastro...

TÚMULO ABERTO


Túmulo aberto
(Carlos Pedala)

Por que é em mim
Essa conexão sem fim?
Por que onde havia poesia
Agora é essa terra úmida
Sem flores?

Restou o barulho dos carros
Bem como o bater do martelo
No concreto que resiste
Em ser no seu modo triste
De ser duro e elo

Finalmente, quando se abriu o túmulo
Havia apenas ossos e cabelos
No que fora pernas e braços
Nem um soluço dali saiu
E a palavra que ali habitava
Partiu

Curioso, olhei para os céus
Para ver se via ou ouvia
Mínimo rastro...

EXATAMENTE


Exatamente
(Carlos Pedala)

O poema há de ser bem pequeno
Pra caber nas rimas
De seus versos
E conter o brilho das estrelas
No espaço

Deve existir em um tempo mínimo
Um átimo
Estilhaço de Big Bang
E reter o brilho dos olhos
Nos seus traços

O poema há de ser igual
Ao tamanho do pedaço
Da vida
De quem o lê
Exatamente igual a você 

quarta-feira, 13 de março de 2013

IRREMEDIÁVEL


Irremediável
(Carlos Pedala)


A poesia é gerada antes das palavras
Antes das letras
O que lhe dá a essência
É a delicadeza com que é feita

Reparem nos antigos carteiros
A ir de porta em porta
Entregando cartas

Com o coração batendo forte
As mãos tremendo
Desfazíamos o pacote de que são
Feitas as cartas

Ali dentro estavam as missivas,
As notícias, as letras e a essência
Ou seja, a delicadeza, o prazer

A verdade de ser
Com que de fato é feito tudo que
É irremediavelmente inútil...

SEM O MENOR SENTIDO


Sem o menor sentido
(Carlos Pedala)

Lanço palavras no espaço
Concreto
Meço o que foi dito
Contanto as sílabas do que está escrito

Cultivo o fonema mastigando a maça
Ajusto a rima
Pra te capturar como a um imã

O calor já não é tão forte nessa manhã

Faço um minuto de silêncio
Em vão espero
Ouço os motores combustíveis
E o porteiro a varrer a calçada

Sirenes, buzinas
E o alarme disparado do carro

Constato que perdi mais vinte minutos
Do meu tempo, da minha vida
Nesse poema sem o menor sentido... 

terça-feira, 12 de março de 2013

POUQUINHO


Pouquinho
(Carlos Pedala)

Quando a gente escreve
É uma questão de humanidade
Existem técnicas e truques
Que destacam o dizer poético

As rimas, as métricas e figuras de linguagem
E vários outros caminhos revelados
Pretendendo demonstrar a passagem
Entre os sonhos e a realidade

Mas é tudo muitíssimo mais simples
É só pegar o teclado e com coragem
Teclar
Um pouquinho de
Você

FOLHAS DE PALMEIRAS


Folhas de Palmeiras
(Carlos Pedala)

As buzinas da Rua Paissandu
Quem se importaria com isso?
Quem tem tanta pressa
Se o tempo vai cuidar da gente

E se os versos não têm rimas
Nem métricas
Nem formas
Por que seriam poesias?

E por que não seriam?
Mas o vento entra pela janela
Ou melhor, uma brisa e me contenta
E passa entre as folhas das palmeiras

As folhas balançam (dançam?)
De um modo tão tranquilo
E mesmo sem alardes
Alguém sempre reparando nelas...  

sexta-feira, 8 de março de 2013

INSTANTE


Instante
(Carlos Pedala)

Nada que há em mim é
Em pedaços
Inteiro sou
No que me desfaço
Livre do que haver-se-ia
Em ser
Desfigurando a forma, desfazer

Paradoxo
Onda quebrando no som
Inteiro
Pleno enquanto dobra de mar
Esparramando areia
Em cheiro

Eterno e passageiro
Constantemente infinito
Instante

quarta-feira, 6 de março de 2013

É O QUE FAZEMOS


É o que fazemos
(Carlos Pedala)

Escuto alguém a varrer a rua
A chuva levantou sujeira
O lixo ficou boiando nas águas
E a tristeza escorrendo pelos bueiros

É esse mundo que produzimos
Relâmpagos repartem o céu
Enquanto nos escondemos de Deus
É o que fazemos no dia a dia

Retiramos tudo o que podemos
E quando a chuva cai, levantando sujeira
Indagamos como se não tivéssemos
Nada a ver com isso, é o que fazemos...

segunda-feira, 4 de março de 2013

RECIFE


Recife
(Carlos Pedala)

Falta palavra para descrever
O interior de você
Na praia de Boa Viagem
Sim, estamos aqui de passagem

No hotel, quadros de Lampião
Chegando ao céu
Na companhia de Maria Bonita
E a indústria da seca de Pernambuco

Em Recife, a chuva funde o horizonte
Às marés cheias
E os apartamentos estão à venda
E a poesia não chega nunca

Apenas o vento constante
E amargura da cana de açúcar
E a poesia feita de pedras
Secas e mudas do agreste... 

sábado, 2 de março de 2013

FLUINDO


Fluindo
(Carlos Pedala)

É o vento, é sempre esse vento
É o mar, é sempre esse mar
É a onda, é sempre essa onda
E aonde tudo vai dar?

Na beira de mim
Na beirada de meu lugar
Se hoje estou aqui
Amanhã já estarei lá

É o vento, é sempre esse vento
É o mar, é sempre esse mar
É a onda, é sempre essa onda
E aonde tudo vai dar?

E você que gosta de mim
Amanhã pode não mais gostar
A vida é esse fluir
Daquilo que é bom e é ruim... 

QUEM SERIA?


Quem seria?
(Carlos Pedala)

A realidade aumentada
É fantástica
Neve no quarto
Dragões voam e soltam fogo
Num desejo
O gênio tecnológico
Faz cair chuva de dinheiro
Sobre mim

Diferente é a realidade que vejo no espelho
A imagem que olha dentro dos meus olhos
Não sou eu
Ela tem defeitos, ela tem idade
Ela parece com alguém
Que não sou eu
Quem seria?

sexta-feira, 1 de março de 2013

BOA VIAGEM


Boa Viagem
(Carlos Pedala)

Na Praia de Boa Viagem
Chegam as ondas
Vindas de outros mares
A menina à sombra da árvore
Aqui e em quaisquer lugares

Na Praia de Boa Viagem
A linha do horizonte
Divide os céus e os mares
E vão chegando as ondas
Trazendo outros ares

Na Praia de Boa Viagem
A maré baixa deixa ver
A areia do fundo do mar
E vão passando as ondas
Levando a seu olhar