terça-feira, 31 de julho de 2012

ASAS E PEDAIS



Asas e pedais
(Carlos Pedala) Para Ícaro

Hoje, recebi mensagem do futuro
ou do passado, como dizer?
Chegou flutuando em bits eletrônicos.
Foi enviada por duende, Ninfa,
ou fada. É alerta, aviso, ou recado?
O que haveria nela importante?

Nada tão diferente. Dizia
que Ícaro prepara as asas. E tão
novo atravessa as ruas, os campos,
as casas. Gosta de poesias e bicicletas.

Entende? É nada de mais, sem surpresa.
É metáfora e mistério.
O menino, o rapaz a untar de cera as penas
e os pedais. A sonhar voos altos e se deixar
levar nos ventos e nas falas do silêncio. 

sábado, 28 de julho de 2012

VENTO




Vento
(Carlos Pedala) A Totonho Braga e Claudio Braga

O filho do Gullar (depois de meses
trancados no fundo de sua alma)
disse: pai, o vento no rosto é sonho,
sabia? Foi o poeta quem falou.

Ontem, estávamos parados de
bicicleta no Largo do Machado,
fazendo campanha eleitoral.

Logo, Totonho apareceu do nada.
Cumprimentamo-nos de modo fraterno.
Informou da sua Mãe, internada no CTI.
Sofreu ataque cardíaco e colocou pontes
de safena. Ao celular o irmão vaticinou:
está velhinha. Mas como? Há pouco era uma jovem senhora a parir e criar filhos.
Ficamos sós. A brisa soprou-nos o corpo inteiro. 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

NO LEBLON




No Leblon
(Carlos Pedala)

Vou de bicicleta pela ciclovia
contra o forte vento, nas horas
do meio-dia. O sol é intenso e a praia
cheia. Tantas pessoas jamais verei.

O Senhor Paulo fala comigo.
Pergunta pelas propostas.
Sugere a causa dos cadeirantes.
Diz já haver visto o mundo.

Tem olhos claros e problemas.
Não acredita mais em nada. 
A rajada enche de poeira os rostos.

O amigo negro chega e entra direto
no assunto. Sem reclame, sem descrédito.
Sem esperança, sem escolha. 

domingo, 22 de julho de 2012

CAMPANHA NA FEIRA




Campanha na feira
(Carlos Pedala)

Acordo cedo, vejo o sol nascer
no horizonte. De fato, é lindo!
Espero gente. Elas não chegam.
O sol brilha por toda a parte, é
dia imenso e belo. Ando de bike
pelo Aterro do Flamengo, assim
como outros. Faço campanha,  
não peço votos. Apenas escutem
o que digo. Não concorda? Não
tem importância. A decisão é sua.

Esqueço analogias, sento cansado,
aprecio.  Carros e aviões passam,
pessoas olhas, riem e dizem meu
nome. Aceno. Na feira da Glória,
em meio aos humanos, às frutas,
a aos legumes, entrego sonhos. 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

COMPASSO




Compasso
(Carlos Pedala)

Tantas vezes a poesia desaparece
e o poema some de vista entre as
árvores, junto à lataria do carro,
nas pistas. A morte passa ao lado,
passa rápido, depressa e deixa o
aceno. O medo me cruza espinha.

Por um segundo, ou mínimo espaço,
deixaria eu de ser eu. O nada seria
para mim o nada. Cheio de não ser,
eu não caberia no caber do fonema.

Nem seria, então, não poderia não
ser. Mas aquilo passa e as coisas
continuam. As rodas da bicicleta
rodam e rodam todas no mesmo
compasso do tempo, feito música. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

ESPAÇO VAZIO




Espaço vazio
(Carlos Pedala)

Existe um espaço, um vazio entre
os raios da roda da bicicleta. Esse
espaço roda com as rodas, sustenta
o aro. Os raios apoiam a tensão
das forças físicas. Elas se entrelaçam
e rodam junto com a roda e o vazio.

Mas esse vazio de que falo é na real
um espaço tridimensional. Ele roda
junto com as rodas. E o que fica por
onde ele passa? O vazio deixa o vazio
por onde passa, abrindo o espaço
tridimensional entre os raios da roda.

A vida segue junto com a bicicleta,
as rodas rodam e ninguém se importa
com o vazio existindo, ali, entre raios. 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

PROPOSTA II




Proposta II
(Carlos Pedala)

Candidato-me a cargo eletivo:
Pedala é o nome escolhido,
Nas ruas me perguntam: qual
a proposta? Ora, fico mudo.

Para bom entendedor, meia
palavra é nada. Haveria então
necessidade de fazer grandes
promessas? Andar de bicicleta
é pouco? Mas essa é a tal tese.

Sim, a isso que me proponho.
Procurar e encontrar meios para
que o Rio de Janeiro, sim, ele inteiro,
possa andar em duas rodas, sem medo.
Transite entre os bairros, vá à escola,
vá ao trabalho, ou, até mesmo, à passeio.