sexta-feira, 31 de agosto de 2012

PERTINENTE




Pertinente
(Carlos Pedala) A Genicy Sena

Acabo de ler Pessoa
Vejo coisas mais claras:
A vida como ela anda,
A ciclovia da varanda.

Entendo. Sou a pessoa
que finge sentir a dor
a dor que deveras sente
aquele que é fingidor.

Não veja aqui lamento
de fato sou impostor,
pois o que era há instante
agora não mais o sou.

e desse questionamento
haverá sempre proveito
assim falara o professor. 

RIMAS




Rimas
(Carlos Pedala)

Alguma coisa pia
de dentro da escuridão
A noite ainda é viva
encurtando respiração

Sinto dor na barriga
Espreitando palavra certa
Vejo o caminhar na rua 
com jeito de solidão
Um ciclista apressado na via deserta
E eu aqui parado, deleite de mansidão.

Conto de novos as linhas
É tudo tão quieto, e tão cheio de vazio
feito poema de Drummond

noto os silêncios do barulho
tateando rimas no chão. 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

PERDIDO




Perdido
(Carlos Pedala)

O poema contido
Fica por ali escondido
De certa forma ele veio
Enquanto estava dormindo
Sim, ele era sublime, era lindo!
Ofendido. Por não ter ido pras telas

Falava de coisas belas
do firmamento do mundo
e da grandeza da vida
talvez, de bicicleta perdida
bem lá do fundo, do fundo da infância
Tento atraí-lo de volta.
Prometo destaque. Prometo glórias e glórias
que não tenho e nunca tive. E, por fim,
ofereço-lhe a infinita riqueza dos sonhos. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

IPÊ




Ipê
(Carlos Pedala)

O ipê desfaz as cores
Em seguimento de flores
Emergindo do verde
Tingindo o céu intocado
Desdobrando-se em olhares
Impressionando de amarelo, vidas.

Daquilo que hoje não é mais coisa 
esquecida 
do fundo de alma alguma
de alma alguma do mundo

Ferrugem de bicicleta
guardada
ressurge de dentro do nada
revelado
por bytes na internet

terça-feira, 28 de agosto de 2012

NUVEM





Nuvem
(Carlos Pedala)

O poema não se explica.
Nem o poema errado.
Posto que tudo que o poeta
diz em bom português
é fado.

Ora, vivo a explicar o que
não faz sentido.
Sou eu quem leva a bicicleta
ou é ela quem leva o poeta?

Mas não se vê o encoberto.
De fato, o coração, ou melhor, o pulmão
não suporta tal fardo.
Que em hebraico seria cruz.
Na última Flor do Lácio, peso leve,
sendo em mim nuvem. 

BOBAGENS




Bobagens
(Carlos Pedala) inspirado em “Idade Madura” de CDA

Andar de bicicleta se aprende na infância
E nunca, nunca mais se esquece
Sinto falta das palavras ouvidas
Ainda hoje a tal distância

Por esses dias tudo parece bem mais fácil
Exceto a alegria advinda da inexperiência

Leio poemas de Drummond e não sei como
Escrever-lhe o nome
Mas já não faz sentido a vergonha
que outrora sinto
do tropeço e do embaraço
nas palavras verdadeiramente simples

bebo cerveja no bar e converso sobre
as questões da linguagem
surpreendo-me tão feliz em falar tanta bobagem

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

MULTIDÃO




Multidão
(Carlos Pedala)

O cansaço me alcança
na forma de resfriado.
Tenho andado todos os dias
nas ruas, próximo aos meios-fios,
e no meio das ciclovias.

Cruzo com tantas pessoas,
Passo por onde elas passam.
Olho, olhos nos olhos.
Recebo alguns elogios e algum resmungar.

Mas o que procuro? Estaria em Copacabana,
na Rio Branco, ou em Irajá?


Seria um rio a humanidade no seu constante passar?

É a fama. É a gloria. É a lama.
Sempre fluindo no mesmo
Lugar. 

domingo, 26 de agosto de 2012

PELE DE VIDRO




Pele de vidro
(Carlos Pedala e Totonho)

O amigo me diz ter pele de vidro
Entre um gole e outro, tenta matar a sede.
Matar a sede de vida.
Fala sobre livros e dedicatórias.
São as letras que mais o encantam.

Ele é tão divertido!
Que todas as coisas ao redor são
graça.
Talvez, até nossa dor.

Uma hora diz que faz rimas de amor,
outras, que sua alma é encharcada de cachaça.
E tudo é cheio de riso, cheio de troça, cheio de bossa.

Agora, sua pele é de vidro.
Quem sabe seja por isso o medo de andar
de bicicleta? O medo de se partir inteiro em pedaços. 

ASSIM DIGO




ASSIM DIGO
(Ethel Carvalho)

falar mal de bicicletas nunca
pensamos ou pensaram
porque pense, adoramos
rodopiar pelas estradas de Paquetá
ou pelas orlas do mar.

crianças fomos pensando
em voar de bikes um tempo atrás
mesmo com assentos
que incomodavam num não sei quê
isso, antigamente...

naquelas bikes de corrida, melhores,
aí sim tirávamos "casquinha" do pessoal
e confesso pensei em fazer uma dupla
pra levar minhas filhas comigo,
elas adoravam

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

CORRES DAS BICICLETAS




Corres das bicicletas
(Carlos Pedala)

As bicicletas têm seus sentimentos.
Os tolos não pensam assim.
Estão certos ao argumentarem
que são um conjunto de peças.

Esquecem que a alma também se empresta.
Tal fato ocorre quando ao arranjo junta-se
o movimento. As rodas giram tranquilas,
carregando a menina imóvel
dentro dos seus pensamentos.
Ela vai sendo levada
com ajuda do vento.

Um cheiro se exala,
impregnando os ferros
e metais insuspeitos.
As corres reluzem esse jeito. 

CANTO




Canto
(Carlos Pedala)

Vejo, sem esboçar qualquer gesto,
Alguém a varrer a casa.
As bicicletas estão paradas. Exaustas
de andar pelo Centro da cidade.

Hoje, é sexta-feira, pondero, reflito,
espero.

Leio sobre os conflitos na Síria e sobre
a escassez de chinelos.

Os filhos vão para escola e para o trabalho.
A mulher tranca-se no quarto, de certa forma,
refúgio do mundo.

O dia é claro, da janela, avisto a entrada da Baía
de Guanabara, por onde outras naus já passaram.

Quieto, aguardo os acontecimentos em silêncio,
enquanto tramita o meu canto. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

HIPOESTESIA


Hipoestesia
(Carlos Pedala) Para Sergio Ricardo

A madrugada,  antes do sol nascer,
é suave, é macia.
O passarinho canta como quem anuncia
a chegada do outro. Ele é só alegria.

O 474 trás o espanto de quem vê o dia
surgir por trás das montanhas do Rio de Janeiro.
Eu no meu canto brincando de tecer poesia
Mas não ouço o gritar do galo nem seu canto.
Aguço o sentido e espero dia após dia
o tal encanto, nada acontece.
Apenas um frio na espinha
e hipoestesia na mão esquerda ou no coração,
de tanto sentir a brisa vinda de dentro do oceano
ao andar de bicicleta
pela orla carioca. 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

EM BOTAFOGO





Em Botafogo
(Carlos Pedala)

Indo pela ciclovia
Em frente à IBM, em Botafogo,
Vejo o avião lá bem alto,
condensador de nuvens.
O céu azul claro.
Imagino de onde veio,
do Nordeste ou da Europa?
De Recife ou de Paris?
A moça em patins ágeis passa à minha frente.
Reparo na habilidade dela e me distraio do jato.
Logo, penso nos pensamentos na velocidade.

Voam tão alto, cheios de realidades:
dores de cabeça, dívidas, problemas de saúde, somas de dinheiro e, por maior que sejam, é tão imenso o mundo e tudo tão pequeno.

EXPECTATIVA





Expectativa
(Carlos Pedala)

Preparo-me para andar de bicicleta
Vou atravessar uma porção do Rio de Janeiro
Vou pela orla carioca
O dia está com sol
E alguma nebulosidade
As montanhas ficam azuladas

As bicicletas estão tranquilas
Mais um dia sem grandes novidades
Assim espero
O aeroporto está aberto
As coisas no seu caminho
Não há espaço para hipérbole
Nem formação de deserto

Mais um dia feliz
Assim espero 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

RUÍDOS NA MADRUGADA




Ruídos na madrugada
(Carlos Pedala)

A noite me ronda por inteiro
Aceso, ouço os ruídos do silêncio da madrugada
e o eterno passar dos carros.
Vivo na Cidade do Rio de Janeiro.
Noto tiros vindos de lugar
distante, e sei da morte de crianças
por na televisão dizer.

Não, não me sinto culpado,
por que deveria? Já tenho problemas
em demasia. Há um apito que não cessa na rua.

Desejo andar de bicicleta cedo,
As magrelas são metáforas. Elas nos transportam
para outros lugares. Tal qual a figura de linguagem,
sendo a força motriz de uma os músculos
e da outra a alma. Palavra tão desgastada.

LINGUAGEM E BIBICLETAS





Linguagem e bicicletas
(Carlos Pedala)

Há certo desprezo pelas bicicletas.
Procura-se a realidade por trás do ser das mesmas.
Tal qual nas palavras.
Como se elas não fossem a própria realidade em si.
Não há um mundo além das bicicletas ou da linguagem.
Não estamos cercados, estamos nelas, somos a linguagem como o ciclista é seu veículo. A ciência objetifica o ser das coisas. Mas a verdade é apenas aquilo que se revela, havendo sempre outras possibilidades.
Ao infinito, e um pouco mais além.

E se há metáfora nas bicicletas. A palavra trai ao traduzir o real. Assim, todo poema é metalinguagem.

O ser do homem navega na superfície das línguas.
O poeta submerge, afogando-se; vivendo e morrendo seu feliz tormento, dentro delas. 


ETERNO PASSAGEIRO




Eterno passageiro
(Carlos Pedala)

O céu azul e rosa revela o dia
escondido atrás das montanhas
do Rio de Janeiro. Na Baía de Guanabara,
o barco ancorado solta fumaça e o navio
que entra apita ou, melhor, lamenta.

O avião sobrevoa em hipotenusa.
Na verdade, é uma curva que aterrissa.
Na varanda, as bicicletas estão cansadas.
E o músculo da perna esquerda enguiçado.

Sobre tudo, tenho dúvidas.
Talvez, não do encaixe perfeito entre
os dentes da coroa e da corrente.

Leio mensagem de amigos, um é
vivo; o outro, não sei. Compro bilhete de viagem.
Eterno passageiro do além. 

domingo, 19 de agosto de 2012

MANHÃ DE DOMINGO




Manhã de domingo
(Carlos Pedala)

Escuto alguém falar ao longe
e o frear do ônibus.
Domingo, cedo, as palavras acordam mais tarde.

Nuvens demoram a tomar o rumo.
Apenas as cores dos atletas atravessam
avenidas.

Uns esperam e gritam, ou emitem sons
sem sentido.

Penso aonde andarão meus mortos,
sinto saudades, em época de eleição,
eles fazem falta.

Da janela, avisto a baía de Guanabara.
Ela não liga para nada e reflete o brilho.

Tantos já passaram por aqui, e a ciclovia
ainda está deserta. 

sábado, 18 de agosto de 2012

TEMPO




Tempo
(Carlos Pedala)

Quando eu morrer, não serei
mais nada. Não consigo compreende
tal ideia. Mas que nada é esse que
não encontro?
Serei mais uma pessoa morta,
Mas aí, isso pouca importará,
se é que importa.

Poder-se-ia pensar pesado.
É melhor aproveitar o tempo.
O momento de estar por aqui, e andar de bicicleta
na orla carioca.

Tudo na hora certa,
viver é tempo.
Esse fluxo incessante,
Apenas isso e mais...

DOMINGUINHOS




Dominguinhos
(Carlos Pedala)

Na manhã, várias chamadas desatendidas.
Retornei. Mamãe falava coisas.
Demorei entender. Reclamou de fotos no Facebook. Talvez, censura, ou bronca de mãe.
Carreguei o susto até compreender o dilema.

Fui à campanha de bicicleta. Flutuei do MAM
ao Leblon pela orla carioca. O dia estava lindo. Mais depois, um pouco mais, o tempo fechou em Ipanema. Nuvens pesadas. Não choveu. Nem caiu pancada.

Surgiu no aparelho Totonho e outros ligações, não ouvi.
Telefonei mais tarde. Procurei por ele.
Alê me contou: a Velhinha foi pra casa e Dominguinhos faleceu.
Grande amigo de infâncias. Às vezes, os celulares são tão tristes. 

URBANO





Urbano
(Carlos Pedala)

Ouço a falta de sentido dos automóveis
Indo e vindo.
Ah, a sujeira do barulho,
congestionador de cérebros, entupidor de ouvidos.
Na cidade, o silêncio é o bem escasso, é raridade.

Na varanda, guardo metáforas e desembrulho dias.
Espero oportunidades.
Assim que posso, estou de bicicleta, atravessando mares de indiferença.

Encurto caminhos e entorto linhas.
Por entre lugares onde passo.
Pedalo com excesso de cuidado.

Admiro o mergulho de aviões sobre a baía.
Fico pasmo diante da realidade.
E pleno, imundo de sonhos.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

POR AÍ




Por aí
(Carlos Pedala)

Feito sempre, acordo cedo.
Abro as janelas da vida e desço
para as bicicletas. Essas felizes despertam.
Adentro as ciclovias, as ciclorrotas, as ciclofaixas.

Pedalo... Pedalo...
Paro.

A alegria das cores dos barcos estacionados
na enseada de Botafogo contamina os ares.

Pedalo... Pedalo...
Paro.

Atravesso túneis
Ultrapasso mendigos e sujos lugares.

Logo, as ondas quebram ao meu lado.
Logo, pedalo... Paro e deslizo junto às nuvens,
na impossível busca do eterno. 

PEDRAS PORTUGUESAS




Pedras Portuguesas
(Carlos Pedala)

Andar de bicicleta é tão simples,
é tão fácil, é só ficar no equilíbrio.
Já em existir há um quê de esquisito,
só existo se sei que existo.

Se inexisto,
jamais saberei desse fato,
jamais tomarei conhecimento disto.

Ao passar, reparo o calceteiro a colocar
pedras portuguesas, uma a uma, lado a lado.
Para elas inexistir nada significa
nem para mim, tal fato.

As rodas rodam em cima delas (das pedras)
e retornam à ciclovia, em frente ao Hotel Fasano.
Antes, me abaixo para não tocar as folhas dos coqueiros que espetam os distraídos. 

POESIA




Poesia
(Carlos Pedala)

Passear de bicicleta
Observando a poesia que se apresenta
vendo o encanto das coisas

que passam

Sentir os pulmões trocarem gases e oxigênio
Sem saber das notícias
Cortar palavras
Soletrando letras

Admirar o rastro claro da lancha
ondas brancas
de hélices na Baía de Guanabara
feito as paralelas na estratosfera de aviões a jato

Sentir o impacto na rocha do mar revolto
ecoar dentro do peito
e aguardar o desfecho perfeito
para um poema torto 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

ZONA SUL




Zona Sul
(Carlos Pedala)

Há nuvens no horizonte.
Repito: nuvens, para não haver dúvidas.
Estamos na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Surfistas deslizam nas ondas.
As pedras do Arpoador se admiram
das turistas quase nuas pelo calçadão.

Nas ciclovias, as bicicletas ligeiras transitam por
universos circundantes. O cheiro da maresia se
mistura ao aroma da gasolina e do óleo diesel.

O playboy reclama seu direito de ouvir
apenas o barulho dos automóveis. O Dois Irmãos
se enche de Vidigal. O roçar do mar na areia
é vai e vem de poesia, de dia a dia. Do ônibus lotado corpos descem sem perceberem nada.O homem alado pousa na praia e não há espanto. 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

ROTINAS





Rotinas
(Carlos Pedala)

O barulho vem de fora e deduzo
as horas. Logo é dia, logo, momento
de despertar. Retomar a rotina do dia a dia,
enfrentar a pequena dor no braço, um mal
jeito. É hora de aprontar as bicicletas.

Primeiro, preciso de alimentos,
leio alguns poemas antigos.
É um compêndio ou algo parecido.
São “Cem poemas essências,” segundo
Carlos Figueiredo. Embora, veja
tantas ausências. Sei (Gullar me ensinou)
que a palavra não tem cheiro.

Ora, mas tudo tem dois lados. A grande,
a maior vantagem é que nenhum poema fede.
Assim, antes de pedalar, vou ao banheiro. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

PELA MANHÃ




Pela manhã
(Carlos Pedala)

Desperto ligeiro de sono profundo.
Acordado sonho, feito Fernando
Pessoa sonhara em conquistar o mundo
e nem levantei da cama.

Na janela, a lua de ontem e de anteontem.
Escovo os dentes como Presidente.
Lamento apenas não ter pensado nisso antes.

Organizo exército de bicicletas e alto-falantes.
Arregimento poetas,
e cavalheiros andantes.

Levanto fundos e faço empréstimos a perder de vista.
Tudo é tão certo.
Tudo é tão claro.

Pássaros cantam lá fora, pessoas passam correndo,
Respiro fundo, respiro aurora e monóxido de carbono. 

domingo, 12 de agosto de 2012

FENOMENOLOGIA DE BICICLETAS




Fenomenologia de bicicletas
(Carlos Pedala)

Escrever é tarefa fácil, posto sem esforço.
Tal qual andar de bicicleta.
Talvez mesmo sem remédio.
As palavras imanam
feito formigas brotando de dentro da
terra. Seguem em fila.

Já bater o martelo cansa,
catar feijão,
esculpir diamantes. Temáticas livres,
Versos soltos: sem rimas e sem métricas.

Arrumar paradoxos. Escolher quebras de sentido.
É o poema pronto para ser lido.
Quem sabe algo se esclareça?
Tudo é possível na interseção imagética do sujeito
e do objeto.  É ali onde há palavra nua.