terça-feira, 30 de abril de 2013

SEM


Sem
(Carlos Pedala)

Sem jaça,
sem graça,
sem massa
sem traça,
sem praça,
sem laço,
sem traço,
sem moça,
sem braço,
sem bossa,
sem cedilha
sem espaço
sem você
o que faço?

SEM RESPOSTA


Sem resposta
(Carlos Pedala)

A frequência com que algumas coisas
Não são ditas
Torna natural essa revolta
Essa revolta
Meio que aflita
Mas, mesmo assim, revolta

Mesmo que na fila do caixa
Essa revolta
Natural como uma ostra em sua casca
Como uma caixa
Sem resposta

Como uma aposta
Sem proposta
Como um vão sem paradeiro
Sem parâmetros
Sem chão

Essa revolta
Ressonância magnética
Sem resposta
Sem pé, sem cabeça, sem mão... 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

FIRMAMENTO


Firmamento
(Carlos Pedala)

Ouço palavras em cantos
Correndo soltas no campo
Todas são feitas de sopro
Vivas voam no vento

Germes de pensamento
Flutuam por todo espaço
Contidas dentro do tempo

Arquitetas de mundos e fundos

Dos amantes são alimentos
Dos Deuses são mandamentos
Dos doentes,  remédio pros prantos

Pros poetas, simplesmente o nada,
O nada do firmamento... 

domingo, 28 de abril de 2013

FÉ EM DEUS


Fé em Deus
(Carlos Pedala)

Eu não acredito em Deus
Não acredito, não
Nem no domingo à tarde
Quando tudo finda
Principalmente a vida

Eu não acredito em Deus
Não acredito, não
Nem quando tenho saudades
Do meu irmão mais novo
Mesmo se arde o coração

Eu não acredito em Deus
Não acredito, não
Nem quando bate desespero
De ser tudo isso
Tudo isso mesmo, em vão

Eu não acredito em Deus
Não acredito, não
Nem quando percebo
Esse fato pouco importar
Pra existência dele ou não. 

MEIA QUESTÃO


Meia questão

Uma pergunta
É o que tem resposta
Uma questão, não.

Então,
Como é possível
Existirem
Tantas meias
Nas minhas gavetas
Sem par?

VERSO DE CORDEL


Verso de cordel
(Carlos Pedala)

Acho que vem do mar
ou vem do céu
antes desse instante
onde eu não sou eu

Acho que vem do mar
ou vem do céu
o instante antes
da palavra no papel

Acho que vem do mar
ou vem do céu
a lágrima refletindo
a luz além do breu

Acho que vem do mar
ou vem do céu
aquele olhar
doce feito mel 

Acho que vem do mar
ou vem do céu
o balançar da cama
tal qual verso de cordel 

ALÉM DO MAR


Além do mar
(Carlos Pedala)

Eu sei
Além das paredes
Além dos prédios
E de nós dois  
Existe o mar

Eu sei
O mar
Não dá pra negar
Não dá
Além de tudo existe o mar

Eu sei
Além do Cristo
Além do Pão-de-Açúcar
Além do Elevado do Joá
Existe o mar
O mar
Não há como negar

Eu sei
Além de mim
Além de você
E além do mar
Existe o mar
E não há como negar
O mar além do mar...

CORTANDO A NOITE


Cortando a noite
(Carlos Pedala)

Apenas a noite
e o barulho dos carros
e poemas a dizer
do lindo fim
e outros carros a passar
aqui

E buzinas cortando a noite
nem sei se há estrela
nem sei se há
mas há carros passando
e buzinas cortando a noite
por ser assim

A luz acesa
os papeis na mesa
e eu aqui...

sábado, 27 de abril de 2013

MOSQUITO


Mosquito
(Carlos Pedala)

Tempo real
Totalmente total
Totalizante instante
Insistente inseto
Inexistente
Zumbido
Vindo  
Indo
Sumindo
Findo
Por fim
Lindo
Assim
Tão igual
A mim 

PENSAMENTOS


Pensamentos
(Carlos Pedala)

Um pouco do meu pensamento
É quebra vento

Um pouco do meu pensamento
É louco movimento

Um pouco do meu pensamento
É só lamento

Um pouco do meu pensamento
É puro sentimento

Um pouco do meu pensamento
É já são tantos

Um pouco do meu pensamento
É totalmente pranto

Um pouco do meu pensamento
É o nada onde me encontro... 

UM DROPES


Um dropes
(Carlos Pedala)

À noite, no parque
É mais lenta
Numa conjunção de instantes
Em momentos
Percebo o tempo consumindo
Um dropes
E pergunto
Olhando pros cantos
E pra vastidão do espaço
Até aonde ecoarão meus versos
Nesse instante?
Obtenho como resposta
A solidão
Indiferente e sólida
De silêncios...  

A ESSA HORA


A essa hora
(Carlos Pedala)

A essa hora
O que importa
A essa hora
Se há ou não nuvens
Se as estrelas brilham
(extintas ou não)


A essa hora
O que importa
A essa hora
Se o luar vaga
No céu
Como a lua
Perdidos no ar

Amparados
Unicamente
Pelo teu olhar
A essa hora...

LAVRAS


Lavras
(Carlos Pedala)

Impossível esconder
no verso segredo
cabendo aqui dentro
Inteiro universo

Quando ela falta
em parte ou completa
invento-a total
ou letra por letra

Tanto faz ser língua
ou pedra bruta
o que escrevo
ou uso de tinta

Tanto faz ser
mudo, surdo, findo
aquilo que falo
ou aquilo não dito

Em primeira
ou última análise
quem manda é ela
por ela mesma 

TAMBÉM


Também
(Carlos Pedala) Pra Antônio Cícero

Nem sei o porquê escrevo poesia
Pois tenho pressa
E covardia

Realmente não sei
Nem tenho aspirações tão elegantes
Apenas pressa e covardia
Vivem em minha companhia

De fato, não faço a menor ideia
Mas faço poesia
Com pressa e covardia

Cai a noite, vem o dia
E eu por aí
Com pressa, poesia e covardia

Na verdade nem sei se o que faço é poesia
Pois as únicas coisas que tenho é presa,
é covardia

Ah, e me esqueci de mencionar
Um pouquinho de preguiça
Também...

INESPERADO


Inesperado
(Carlos Pedala)

Esperar o inesperado
É se surpreender
Com o não poder ser
É suspense de acontecer
O esperado vem
Sem ser convidado
O inesperado vem
Sem ser convidado
Esperar ou não,
o inesperado?
Como se em alguém
houvesse outra opção... 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

PROCESSO


Processo
(Carlos Pedala)

Atestado de funcionamento
Prova de regularidade
Mandato da atual diretoria
Atividades da entidade
Relatório apresentado
Ata de reunião
Comprovante de entrega
Protocolo de sonhos
Reconhecimento da vida
E reafirmação da mesma... 

LIMITE


Limite
(Carlos Pedala)

Análise técnica de coisa
em conclusões de estrelas
ou fogos de artifício

Num fluxo de palavras presas
pelos, penas, pernas
lúcido de hospício
quebrador de instantes
pra reconstruí-los
emendar as partes sem encaixe

Saber exatamente
o local onde o poema
sobra por excessiva falta
de limite

quinta-feira, 25 de abril de 2013

LUA CHEIA


Lua Cheia
(Carlos Pedala)

O luar cai sobre o mar
Só sobre o mar e mim
o luar
As ondas do mar
O quebra-mar
a quebrar as ondas do mar
e o luar
E a lua mais perto de mim
Paro por um instante
E ele ali
O luar
Inteiro
Amplo
Inesperado
Luar
Sobre o mar
e mim
Luar

E PONTO


E ponto
(Carlos Pedala)

O mal-estar que me completa tanto
Em sendo todo limite
Não admite comparação
De espaço
Entre a emissão e o escutar do canto
De tanto assim
De dentro
Quebranto de mim
Quebra-mar
Lua no mar
Luar
E ponto 

RESSENTIMENTO


Ressentimento
(Carlos Pedala)

Não media palavras
E queria o mundo dentro de uma forma
Onde só coubesse o justo
Quando brigava porque bebessem
Era menos porque bebessem
Mas porque quisessem transformar
A vida numa festa
O ressentimento é adubo
Pra jardins e jardins de flores
Falsas
As flores de plástico não morrem
Apenas perdem o brilho
As cores
E se deixam cobrir por fuligem
De pneus e motores
Combustíveis.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

DIAGNÓSTICO


Diagnóstico
(Carlos Pedala)

Havia alguma coisa
Engasgada na espinha
Como uma hipótese
Não sabia do mal
Da palavra presa
Daquilo sem farinha
Os doutores incertos
De incertos diagnósticos
Ouviram os mais velhos
Recomendaram lhe
Repouso, água fria
e poesia

terça-feira, 23 de abril de 2013

AMIZADE


Amizade
(Carlos Pedala) Pra Stelinha e Warly

Certo dia,
Na cozinha de apartamento
Na Cidade de Leopoldina (Minas Gerais)
trocavam receitas de bolo
e orações
Isso se dava em meio à algazarra,
típica das meninas
ansiosas por viver e amar
Somando-se à felicidade e aos abraços
Tudo eram sorrisos,
Flores, quadros, bordados
e cores  
O tempo na folhinha ao lado
Ali, era um instante sem idade
Mais um em mais de setenta anos
De amizade...

PASSEIO


Passeio
(Carlos Pedala)

Na infância difícil
Havia pouca comida
Pouquíssima roupa
Mas havia jardins
Imaginavam juntos, às vezes,
Impossíveis passeios
A Mãe dizia precisar de carro grande
Ou melhor, de caminhão pra levar oito
Uns iriam na caçamba
A disputa se estabelecia, os ânimos esquentavam
Chegavam às vias de fato
Então, ordenava: - desçam! Desçam todos!
Frustrados e felizes, obedeciam
E se punham a chorar...

LEOPOLDINA


Leopoldina
(Carlos Pedala) Pra Maria Stela

As calçadas finas
de tuas ruas
As tuas esquinas
O cheiro do pó
do pó de barro vermelho

A catedral lá de cima
tanta idade, tanta sina
No cair das tardes
De Leopoldina

E ainda esse céu
E velhas estrelas
Guiando o destino
De tuas meninas

Na terra de Minas
Na água de mina
O canto de teus poetas
jamais desafina

No vento ou em lamento
nas serras de Leopoldina


segunda-feira, 22 de abril de 2013

CANÇÃO DO EXÍLIO DA INFÂNCIA

Canção do exílio da infância

(Carlos Pedala) A Gonçalves Dias

Seu único sonho ousado
Era ser plantador de sombras
Semeava letras inventando
Fórmulas absurdas
Havia cismado que as rimas
Seriam consonantais

Logo cedo saía
Carregando nos ombros
Toneladas e toneladas de metáforas
E guarda-sóis
Percorria as praias distribuindo
Manhãs

Recolhia
Sorrisos estampados
Que eram cuidadosamente armazenados
Em armários de vento
Ao qual adorava ver
Correr solto

Pois recordava da infância
Entre palmeiras e
Sabiás

domingo, 21 de abril de 2013

CONJUNTO


Conjunto
(Carlos Pedala)

Tudo enquanto conjunto
é igual a
Tudo enquanto conjunto

Tal qual a vida quando finda
É linda e finda
Tal qual a vida quando linda

O tempo enferruja o ferro
E dá eco ao pio da coruja
Que ecoa pelo firmamento

Sendo o inimigo concreto
Do concreto o leve vento

Das ondas do mar
Do mar a avançar
Do mar a recuar

Eternamente em eco
Tal como o reflexo desse conjunto... 

APENAS


Apenas
(Carlos Pedala) Pra Maria Regina Angeiras

Tua falta é a única coisa que fica
Aqui e quica
aqui
No nada da vida
que sobrou de mim

Tua falta é a única coisa que ficou
Aqui
Por onde a vida passou
E deixou de você
Resto de palavra que restou

Tua falta é a única coisa que ficou
E emergiu
Do fundo de onde você saiu
Lá de dentro do meu eu
Vindo à tona, tua alma
Apenas... 

DE DENTRO


De dentro
(Carlos Pedala)

Onde está a felicidade?
No sentimento
Dentro de muros pintados
No sentimento
Dentro de grafites da cidade
No sentimento
Dentro das nuvens
No sentimento
Dentro do arrame farpado
No sentimento
Dentro do concreto armado
No sentimento
Que vem de dentro de dentro do bem
No sentimento
Que vem de dentro do vento que invento 

BRAZIL


Brazil
(Carlos Pedala)

Nada tão frustrante
Como ter que resolver
Um problema
Que de certo modo
Não é seu
Fazer todo um esforço
De elaboração
De solução
E ser impedido
De implementar
A providência
Pela conveniência
De lucros
De outros
É o modo
Como se diz
O país...  

sábado, 20 de abril de 2013

SINTAXE


Sintaxe
(Carlos Pedala)

Em alguns momentos
Gostaria
De dizer coisas
Delicadas
Simples
Como lágrimas
Ou gotas de chuva
Sem motivos
Quiçá, inúteis
Com sintaxe
De fazer sorrir...