sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O QUE FOR

O que for
(Carlos Pedala)

Disfarce
ao dizer das coisas
as coisas
sofra
a dor mais forte
da existência
no existir, no aparecer
na aparência
padeça do entardecer
e que tudo seja
apenas
o que for... 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

TRAMA

Trama
(Carlos Pedala) Para Pedro Sena

Pairo no quarto
daquela janela
quero ultrapassá-la
mínimo mistério
parapeito dela em algum defeito
feito trama de aranha no quanto
também poderia ser teia
à tarde ponho a árvore nela
e nela de manhã, vejo a janela trazer manhã
enquanto nela
pequenos dramas
lágrimas correm do meu rosto
sim, do meu rosto em chamas
enquanto acordo e a manhã já se foi embora
e se forem em vão estrelas
por que não?
Porque não posso vê-las
não há como saber o esperar delas
e o que elas, as estrelas (brilhantes e pequeninas),
transluzentes tramam pra mim... 

sábado, 25 de janeiro de 2014

NO MEIO DA TARDE

No meio da tarde
(Carlos Pedala)

Reparo nas sombras
nas sombras das palmeiras
e nem falo nada
apenas ouço a música
enquanto o vento balança
as folhas das palmeiras da Rua Paissandu
leio notícias:
(via internet)
andam de bicicletas nus os ciclistas
entre a ruína dos prédios
e os mendigos da praça
leio ainda
sobre mortes na Indonésia
de mim, acham graça
esboço um sorriso
enquanto reparo na bossa
das sombras das palmeiras
e do vento que passa
entre os prédios e as folhas das palmeiras

da Rua Paissandu... 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

MAIS BONITO

Mais bonito
(Carlos Pedala)

O que ela diz
em inglês é mais bonito
o que ela diz
em inglês é mais bonito
é mais bonito
mais bonito

veja, você
como se diz
em inglês, por exemplo, cabrito
é mais bonito
é mais bonito
é mais bonito

em qualquer lugar
até lá em Paris
tudo que ela diz
em inglês é mais bonito
mais bonito

mais bonito... 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

FEITO DE NADA

Feito de nada
(Carlos Pedala)

larguei um poema
à beira da estrada
sem saber o que sou
sou feito de nada

de onde vim,
para onde vou
o caminho a seguir
pavimento de mim

sim, ouço a sua voz
por onde vou
não escuto o que diz
mas o som da sua voz

deixarei o poema
à beira da estrada
sem saber de você
sou feito de nada...


domingo, 19 de janeiro de 2014

E FINDA

E finda
(Carlos Pedala)

abertas as tabernas de Lisboa
mais um pouco ainda
a voz de lá ecoa
e mais um pouco ainda
a escutar Pessoa
cantará o mar, o céu
e o mar existirá entre nós
mais vivo
quando mergulharmos nele
e esse mesmo céu ainda
e um pouco mais ainda
o mar é onda, é voz
no bater na rocha
o mar no bater na rocha vibra
é onda
se propaga e finda...


sábado, 18 de janeiro de 2014

FLUTUAR

Flutuar
(Carlos Pedala)

As folhas das palmeiras
balançam sobre a Rua Paissandu
por um momento
veio a impressão que elas cantam
que elas dançam
ao alisar do vento
senti alegria
rever as ondas do mar nas palmeiras
do mar imenso
grandioso e imenso instante
fugaz momento
as folhas verdes balançando entre os apartamentos
as palmeiras da Rua Paissandu
e suas folhas verdes balançando
indiferentes aos carros, aos olhos humanos, ao universo
regozijando-se com o vento
flutuando sobre a Rua Paissandu... 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O AMOR

O amor
(Carlos Pedala)

Como poderei antever
que o amor será melhor
quando se for
quando não mais ouvirei tua voz
e teus cheiros se confundirem
com outros no banheiro
como poderei conter o agora
entrelaço as mãos em teus cabelos
bebo todos os beijos de tua boca
antevejo o momento em que se for
gozo sabendo que somente quando
partir , será apenas aí,
de fato amor, verdadeiro amor...