quarta-feira, 31 de julho de 2013

DESEJO ASSIM

Desejo assim
(Carlos Pedala)

Hoje, antes de sair
Ela me chamou
Ela me mostrou
Parte dela assim
Mundo sem fim
Por mim e por mim
Cornucópia, prosódia
Quadro de Picasso
Cubismo, Guernica
Sem pé sem cabeça
Ela me deixou o desejo assim
Porque mulher é desse feito
Eu daquele jeito
Sujeito e desejo assim...



O FIM

O Fim
(Carlos Pedala) Para Carlito Azevedo

Acabei de ler na internet
Um poema que diz assim:
“o tempo exige o fim”
A um clik daqui, o fim
O fim afim do fim
Falava um pouco mais além do fim
Como a tristeza pode vir
Como ela pode nos convir
Sim, o fim está no fim
Logo ali e mais além
Primeiramente o fim
O tempo exige em tudo o fim
E em mim demais além o fim
Primeiramente em mim, o fim
E a tristeza pode nos convir
Demoradamente mais além do fim...


terça-feira, 30 de julho de 2013

SIMPLES E COMUM

Simples e comuns
(Carlos Pedala)

Às vezes encontro versos fáceis
Poderiam ter sido escritos por mim
São palavras comuns
Podem ser proferidos por qualquer um
Fico feliz quando é assim
Sem grandes revelações
Sem estruturas descomunais
Simples assim
Tão banais
Poderiam ser feitos por mim
Pois me dizem coisas assim
Tão banais
Simples e comuns
São feitos a luz do sol
Me dizem coisa assim
Simples e comuns... 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

OUTRAS TARDES

Outras tardes
(Carlos Pedala)

Olhávamos o céu ali tão perto
quase a tocá-lo
As coisas eram do jeito que eram
Eterno movimento
Os automóveis, as nuvens, os ventos
As mudanças das cores
Os nuances de tons e sobre tons
O sol de dia, de noite a lua
Os elementos circunspectos
Trazíamos nós de dentro
A juventude em sua hora
A morte por ali presente
E o céu ali tão perto
quase ao alcance 
O eterno e o movimento
Os cheiros de eucaliptos  
Os grilos, os aquilos
E os que se foram...

DO SEU

Do seu
(Carlos Pedala)

Uma escrita tão bonita
Diz do amor sem dizer
Do exato eu em você
Do meu nu no seu nu
Do gosto de céu na boca
E de nuvens e de nádegas
E de neves e de ancas
Eternidades brancas
De um jeito afeto afoito 
Feito impossível
Silêncio do coito
Do meu eu dentro do seu
De uma forma intraduzível
Para dizer do ser
Do meu ser, do seu... 

VIDA DE FALA

Vida de fada
(Carlos Pedala)

A palavra balança
Entre mim e a esperança
A palavra balança
Entre o silêncio
E a inocência
E se ela cai no papel
Ou sai num risco de giz
Diz menos do que não diz
Porque palavra é extensão de nada
Nasceu com hora marcada de fim
Palavra dita e finada
Anseia por ser 
Sopro, alma, vida de fada... 

domingo, 28 de julho de 2013

JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

Jornada Mundial da Juventude
(Carlos Pedala)

Na juventude
Por época das férias de julho
À tarde, juntávamos a turma
E íamos tomar banho de cachoeiras
Nas montanhas da Floresta da Tijuca
Na sua face que dá para o mar
Subíamos alto, desviando dos perigos
Ficamos admirando a baixada de Jacarepaguá
O aeroporto e seus teco-tecos
Bem como os tons de azuis
Que as montanhas mais distantes iam assumindo
Víamos o por do sol
Havia algo religioso, uma ligação direta com a natureza
Éramos parte da natureza, éramos parte de Deus
Naquela época não havia o hábito da cocaína
As pessoas se contentavam com marijuana
E cogumelos alucinógenos
Ninguém falava de Facebook, Google, internet
Nem nos preocupávamos em atende o celular
Eram outros tempos, era outra juventude... 

POR TODOS NÓS

Por todos nós
(Carlos Pedala)

Há sempre outro modo de se dizer
Há o frio solto nas ruas
Poucos automóveis e gentes
Dá para olhar as coisas mais de perto
O que não aconteceu, não foi
São imponderáveis pensamentos
O cheiro do pão, o cheiro dos alimentos
Na hora da missa, talvez pouco depois
Quando formos embora
Os carros continuarão passando
Bem como o pão e seu cheiro (inconfundível)
Os que ficarem se preocuparão com o almoço
E com isso tudo que faz com que a vida seja
Tão amada por todos nós... 

BATENTES VOADORES

Batentes voadores
(Carlos Pedala)

Em frente à Casa do Pão
A padaria na Rua Marquês de Abrantes
Poderíamos ter morrido há uns três anos
Nem perceberíamos como ela ficou deserta
(a missa do Papa em Copacabana e o frio)
O caminhão deslocou o batente da calçada
Ele voou cerca de quarenta metros
Caiu exatamente onde estamos agora
Mas já faz algum tempo, como dissemos
A vida e a morte não deixam de ser uma
Questão de estar no lugar certo, na hora certa
Não há filas para comprar o frango assado
Daqui dá para ver os ônibus passando na
Praia de Botafogo, nunca havíamos reparado
Em dias normais (hoje é domingo)
Estamos preocupados demais em sobreviver
Em escapar do acaso e dos batentes voadores... 

sábado, 27 de julho de 2013

DO MESMO JEITO

Do mesmo jeito
(Carlos Pedala)

De tantas coisas eu não sei
E fico a esperar
Um verbo que transforme esse lugar
Uma palavra, uma ideia, uma luz
Como se as circunstâncias fossem outras
E os deuses que as habitam
Saiam de dentro, do inteiro dali
Feito um drible de Neymar  
Deixem-nos ver as estruturas a dançar
E o mundo que existe de fato em si
Se mostre verdadeiramente
Desfigurado e nu
Mas pensando bem, bem mesmo
É melhor deixar tudo do jeitinho
Que está... 

VIDRAÇA

Vidraça
(Carlos Pedala)

É melhor fechar as janelas
Como a velhinha do outro lado da rua
Olhando através da vidraça
O tempo a deixou de cabelos brancos
E em nós vai semeando perguntas
Desconfiamos das letras
Dos espaços entre as palavras
Da nossa própria inteligência
Por que seriam coisas tão distantes daqui?
Por que devemos ter tanto medo do mistério?
E aceitar essas coisas calados
Enquanto o mar continua rugindo suas ondas nas rochas e pedras do Arpoador
A velhinha de cabelos brancos fica olhando Através da vidraça... 

SOBRE ISSO

Sobre isso
(Carlos Pedala) Para Genicy

Faz frio no Rio de Janeiro
Na mesa do café
Ela me fala da sua infância profunda
Nos subúrbios da Floresta Amazônica
Os olhos brilham. (Ela é tão bonita!)
Vou saboreando pão preto e café e olhos
e cabelos e sentimentos juntos
Usando esses recursos
O tempo, vamos decifrando enigmas
E silêncios do seu movimento
Enquanto, no momento e pronto.
A vida vai passando
Relembra dos Padres Mário e João
De tudo o que fizeram de bom
Gosta do Papa Francisco
E rindo, provoca:
- só está ouvindo para escrever sobre isso... 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O NADA DO EU

O nada do eu
(Carlos Pedala) A Elisabeth S. Martins (Elisa)


Minha página está toda apagada
Não sei o que aconteceu
Fico aqui pensando,
Mas não consigo entender
O vento varreu,
A terra tremeu
Sobrou o nada da página
e eu

Minha página está toda apagada
O timeline sumiu
Nada do que você escreveu, ficou
Nem sei o que sobrou
Se apenas o branco da página
Ou o nada do eu... 

NOSSOS SONHOS

Nossos sonhos
(Carlos Pedala)

O frio é intensamente
Acordamos cedo
Já não havia mais o que dormir
Tomamos um café e escrevemos algumas linhas
Depois, o sono veio de novo
Voltamos para a cama
E dormimos até tarde, bem tarde
Grande felicidade
Por hoje ser feriado
Pena que esses helicópteros
Insistam em abater
Nossos sonhos... 

MÚSICA DE RÁDIO

Música de rádio
(Carlos Pedala) A Amy Winehouse in memoriam

Escutei uma música no rádio
Sei que não andei muito bem
Mas agora estou voltando
Mas não sei bem para onde

Escutei uma música no rádio
Não entendi muito bem o que dizia
Nem eu andei muito bem
As pessoas ficaram tristes por mim

Escutei uma música no rádio
A letra era em inglês
Não podemos perder sempre
Sei que andei errando

Escutei uma música no rádio
Tive saudades do meu pai
Não sei bem o caminho a seguir
Mas estou voltando...  

TORCIDA

Torcida
(Carlos Pedala)

O tímido raio de sol se acende
Toca levemente a palmeira da Rua Paissandu
Não, não vem com escudos e cassetetes
Nem manifesta nenhum protesto
É apenas leve
Aos poucos vai sumindo
Meio envergonhado,
Pulsa, vibra, desaparece
Logo, volta de novo
Se repete
Se esforçando por ser
O frio é muito mais forte e intenso
As janelas encolhidas e agasalhadas
Apenas observam
Torcendo por ele... 

POBREZA

Pobreza
(Carlos Pedala)

A folha em branco é tentadora
Embora não seja tão real como outrora
A realidade é assim
Sempre a nos pregar peças
Vem daí a beleza dos paradoxos
Onde a linguagem embaralhando um pouco os sentidos
Interferindo na lógica
Demonstra-nos de fato as possibilidades
Podendo mesmo a poesia dispensar as rimas
E outros recursos naturais
Não trazendo nem prata nem ouro
Como disse o Papa
Não obstante enriquecer a todos
Com essa pobreza...



ANDORINHAS EM PETRÓPOLIS

Andorinha em Petrópolis
(Carlos Pedala)

De repente acontecem coisas impensáveis
Vimos andorinhas em Petrópolis
A gente imaginou a vida inteira elas não gostando do frio
E elas lá voando em plena Av. do Imperador
Na infância, presenciamos um bando delas morrerem
A TV disse que foi o frio
Há reminiscências de um carro fumacê
Talvez tenham contaminado com veneno os insetos (pobres coitados)
O fato é que foi muito triste ver as andorinhas mortas
Mortas elas não voavam mais
As crianças sentem demais a morte de andorinhas
Deve ser porque quando mortas
Elas não voam mais...


quinta-feira, 25 de julho de 2013

NUVENS E NEVES

Nuvens e neves
(Carlos Pedala)

Aproveitamos o feriado
Para ir ao dentista, em Petrópolis
É estranho?
É, mas cada um carrega sua história
Na estrada tem a floresta e as nuvens
A Cidade Imperial meio do verde e de nuvens
Não dá para enxergar longe
Nem vimos a antiga casinha
No Bairro do Quitandinha
A humidade e o frio
Oito graus no centro
Dão o ar de sua graça
Há previsão de neve no domingo
A moça perguntou se a gente acredita
É claro que a gente acredita... 

FRENTE FRIA

Frente Fria 
(Carlos Pedala)

O frio deixa os cariocas sem jeito
Não sabemos aonde colocar as mãos
Não adianta, não fomos criados para isso
Sabemos receber o Papa
Sabemos receber os turistas
Mas não há como sermos anfitriões
De temperaturas tão baixas
A poesia também é afetada pelo clima
O corpo e a mente se ressentem
Mesmo que não frequentemos as praias
Habituamo-nos a ver as moças e os jovens
Semi-nus desfilando nas areias
Viviam dessa forma os Tupinambás e os Caiçaras
Mesmo depois da chegada dos Jesuítas
É um deleite
Compõem a paisagem
Assim como o Pão-de-Açucar
E o Cristo Redentor
Com seus braços abertos sobre nós... 

IMPOSSIBILIDADE

Impossibilidade
(Carlos Pedala)

Há algo que falta
Constantemente
É incompletude
Completamente ausente
Do choque de bocas e dentes
Desejo de ter na pele
A voz que se diz você
Não pode ser, não pode ser
Agua do mar na beirada
Horizonte do nada
E a língua vasculhando
O céu, o inferno, o seu eu
Atrás do que não se encontra
Talvez uma nuvem baixa
Talvez amor onde nunca 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

OBRA-PRIMA

Obra-prima
(Carlos Pedala)

São coisas que acontecem
Poderia acontecer a qualquer um
As palavras vão caindo no papel
Letra por letra
A gente até se impressiona
Às vezes parecem lágrimas
Às vezes borboletas
Algumas lembranças
Um fato presenciado
Qualquer coisa pode ser um bom motivo
Está certo, nem tudo fica bom
Mas é assim mesmo
Veja nos grandes artistas
Não é a toda hora que se faz
Uma obra-prima... 

terça-feira, 23 de julho de 2013

BRUMA

Bruma
(Carlos Pedala)

Vem vindo vento leste
Vem vindo vento leve
Afirmando lentamente vida
Vê firmamento lindo
Leve vento seja breve e lento
Leve suave balanço de árvore
Verdes e suaves folhas, vede
Vento leve vele a vela fina
Leve e eleve pensamento
Porquanto pese pensamento
Por mais breve seja apenas ser
Penujem, a pena mais escura
E nada pese em ser bruma... 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

FEITO AS ESTRELAS

Feito as estrelas
(Carlos Pedala)

Embora sem grandes mistérios
Por tacitamente ditos
Há escritos que precisam ser explicados
Por essa época, em julho, antigamente
Quando jovens (bem jovens)
Costumávamos passar a noite inteira vendo balões
Na Freguesia de Jacarepaguá, onde habitávamos
Não havia tanta iluminação pública
Fazíamos fogueira, era frio
E os céus de julho são bem mais limpos de nebulosidade, as casas e bancos das praças nos assistiam
Não havia internet, nem celulares, nem TV a cabo
Éramos uma turma amigos
E víamos estrelas cadentes e constelações
Os balões eram lanterneiros ou fogueteiros
Eram em grande quantidade e beleza
Flutuavam alto em direção ao mar
Assim feito as estrelas... 

domingo, 21 de julho de 2013

NO CAIS

No cais
(Carlos Pedala)

Vamos falar as coisas de outro modo
O dia demorou sair cedo
Iríamos à Paquetá de bicicleta
Desistimos, a fila era demasiadamente gente
Resolvemos andar flutuando
Por antigamente
Em ruas estranhas e desertas
A solidão estava às portas
Velha companheira
Nunca nos deixou completamente
Vimos coisa de dar esperanças
Aos outros
E o tempo e o tempo e o tempo
Por todas partes
Passeando feito vento forte
No cais de chegar escravidão... 

PORTO MARAVILHA

Porto Maravilha
(Carlos Pedala)

Uma palavra nunca é igual à outra
Os sinônimos são sempre aproximações
Nem sabemos o porquê de falar dessas coisas
Domingo, andamos de bicicleta pelo Centro
Praça XV, Av. Rio Branco
Deparamo-nos com o Porto Maravilha
Vimos o Museu de Arte Moderna do Rio
Um Sudoeste nervoso nos pegou de surpresa
Aquelas árvores poderiam cair a qualquer momento
Descemos até o antigo porto descoberto
Por ali passaram mais de quinhentos mil africanos
De Angola e do Congo na sua maioria
Vieram aqui transformados em escravos
Não, não eram escravos antes de aqui chegar... 

FREGUESIA DE JACAREPAGUA

Freguesia de Jacarepaguá
(Carlos Pedala)

A poesia é completamente
Sem sentido
Ainda mais agora que é feita no computador
Só as aranhas cibernéticas é que a apreciam
Vivem visitando as páginas recém-nascidas  
Nos Blogs do ciberespaço
Antigamente, por essa época do ano
Julho
Ficávamos a noite inteira vendo balões
Fazíamos uma fogueira
E colocávamos batata-doce para assar
Não sabíamos utilizar o trema nem o hífen
Os balões vinham dos subúrbios do Rio de Janeiro
Iam em direção ao mar
Vivíamos na Freguesia de Jacarepaguá... 

FUGA

Fuga
(Carlos Pedala) A meus avós maternos 

As reminiscências ouvidas no barbeiro
Fizeram me lembrar do meu Avô
Aos noventa anos ele fugiu de casa
Deixou a todos preocupadíssimos
Observamos o protocolo
Com queixas na polícia e procura nos hospitais
Bem como rezas e choros contidos
Foi encontrado dois dias depois
Na Estrada Velha de Jacarepaguá
Estava bem, disse que havia se perdido
Houve grande contentamento
Exceto por minha Vovozinha
Ela nunca engoliu bem essa história... 

sábado, 20 de julho de 2013

BARBEIRO

Barbeiro
(Carlos Pedala) A José Maria

Sábado à tarde
É um bom dia para ir ao barbeiro
É bom cuidar da aparência
É um estabelecimento unissex
Embora só existam homens,
Não, não há mais fotos de mulher pelada
Como os de antigamente
Alguns clientes gostam de falar da vida
O que está a nossa esquerda
Fala com intimidade do seu avô
E da surpresa dele ao ser atendido em casa
Pelo barbeiro (o avô era vaidoso e estava doente)
Os dois dizem sentir saudades do velho
O barbeiro e o cliente
Lembrei-me do meu pai e de meu avô (José Maria)
Sentia que meu pai ficava contente ao me levar para cortar o cabelo
Ele sentia-se muito feliz
Por esse evento tão simples...  

ABSOLUTA

Absoluta
(Carlos Pedala)

Existem versos estranhos
Ficam na mente no momento
E a vida inteira
Como os de Vitor Nogueira
Sabemos de pessoas que não suportam
Embora até gostem de poesia
De certo modo
E de fato
É esquisito reparar no barulho
Das Havaianas nas palmas dos pés
Ao cruzarmos o corredor que leva ao quarto
Ou nos traz aqui de volta
É algo de fato sem sentido
Mas assim é a vida
Absoluta falta
E absurda... 

FUNDAMENTO

Fundamento
(Carlos Pedala)

Certas pessoas são planetas em órbita
Estão sempre a nossa vista
Ao alcance das palavras
Pode ser que sejamos nós
De verdade os responsáveis
De preferimos manter distâncias seguras
Talvez a vida seja assim mesma
Feita de mal entendidos
De palavras tranca língua
Para nos sairmos bem
Essa encenação que representamos todos os dias
É fundamental
É a base de civilização
São séculos de treinamento
Para convivermos tranquilos uns com os outros
Não obstante
Todo o absurdo...  

VINGANÇA

Vingança
(Carlos Pedala)

Preservar o silêncio
Saber observá-lo
Deixar do jeito que está
As coisas que se digam
Por si mesmas
Em alguns sábados
Há casas onde as pessoas
Acordam mais tarde
Nos fins-de-semana
Afrouxam-se os horários
Não deixa de ser
Uma rebelião contra
A sistematização da vida
Em rígidos padrões
Não deixa de ser
Uma pequena vingança... 

FEIJÕES

Feijões
(Carlos Pedala)

De todos os modos a vida é assim
Dessa maneira
E alguém precisa falar dessas coisas
Tal qual o almoço de feijoada na sexta-feira
O Frota recorda a primeira Copa do Mundo de Futebol
A primeira que ele se lembra de ter assistido
Foi em setenta e quatro
A família comprou uma televisão a cores
Outros colegas também se lembraram de ter ou não comprado a TV
De certa forma, naquele tempo, o mundo ainda era em preto e branco
Porém, ninguém fala muito hoje
Saboreamos as misturas e o feijão
E nos damos por satisfeitos
Voltamos juntos para o trabalho
Andando lado a lado
Dizendo sobre coisas amenas
Notamos as mercadorias expostas nas prateleiras
Na Rua do Rosário, depois, Rua Buenos Aires
No Centro do Rio de Janeiro. 


quinta-feira, 18 de julho de 2013

SUSPENSE

Suspense
(Carlos Pedala)

Há agora um silêncio
Surdo, mudo, completo
Dentro e fora da gente
Dentro das paredes do apartamento
Inteiramente
Os monstros de debaixo da cama se foram
Também com ela
Até os ratos gigantes que andavam atrás das portas
Esses serem repugnantes
Donos do medo e do pavor
De atacar nossos parentes  
Surgidos a qualquer instante
Se foram também com ela
Ficaram a impressão e os quadros da sala
E o suspense de fugir a qualquer hora
Pela janela...


ATÉ BREVE

Até breve
(Carlos Pedala)

Lelé me leve
Me leve com você
Me leve
Pequenina
Pequeno pedaço de gente
Tá quente, tá quente, tá quente
Lelé me leve
Me leve com você
Me leve
Serei breve,
Serei rápido
Serei love
Love, love, love
Lelé me leve
Até breve

PARA DIZER

Para dizer
(Carlos Pedala)

Quinta-feira,
Há certo cansaço do mundo
Precisarei passar no meio
Por dentro mesmo  
De uma feira-livre ali na Glória
Terei que ter muitíssimo cuidado
Com as pessoas
As que fazem suas compras na feira
Vou de bicicleta para o trabalho
É ruim andar de bicicleta no meio das pessoas
É mais ou menos como nos dias
Quando não temos nada para dizer... 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

DONA TEREZA

Dona Tereza
(Carlos Pedala)

Ela quis me falar alguma coisa
Pela manhã, na hora do café
Mas já era tarde demais
Havia em algum lugar melancolia
Ela queria me falar duas palavras
Talvez de sua gente
Talvez dessas coisas da vida
Mas ficaram presas
Na dureza, na corrente, na correnteza
E eu não sei dizer dessas coisas
Dona Tereza
Não, não sei dizer dessas coisas
Não sei dizer
Dona Tereza...