sábado, 30 de agosto de 2014

deu de manhã
(Carlos Pedala) Para Antonio Carlos Braga Martins

sei que falam de mim
mas não estou certo
aqui se deita
o que sai da boca
joguei na festa
e o que me resta
é o que me resta
rios de lágrimas
correm  em meu rosto
mas não há lamento
a vida é assim

sei que falam de mim
pouco importa
apostei na festa
a vida é assim

e a noite que passei alerta
deu de manhã... 

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

aposta
(Totonho e Carlos Pedala)

nem me joguei
nem sei porquê
eu perdurei
eu apostei

pode ser nem
meu lado “b”
que nem eu sei
se acertei
mas não ganhei

deu de manhã
deu de manhã

o que não sei
o que não sei

deu de manhã
deu de manhã... 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

o mar em festa
(Carlos Pedala)

o mar ameaça  
esbraveja sua força
arregaça, espicha
em ondas, estica o verdejar

o mar balança em festa
em beber cachaça
em roçar as rochas
em dançar com as moças

o mar de ressaca
se desmancha
e na areia seca
cheio de preguiça...


daqui é o mar
(Carlos Pedala)

daqui é o mar
é meu mar inteiro
muito embora em pedaço
onde as baleias encalham
e os navios passam

daqui é o mar
é azul, é verde
onde moram os peixes
onde morrem os náufragos
e é curta a linha do horizonte

daqui é o mar
é a areia branca
ou um amontoado de gente
onde a noite vem de mansinho
e a manhã nasce... 
entre dois apartamentos
(Carlos Pedala)

da janela, vejo o mar
entre dois apartamentos
linhas retas, linhas tortas
estoura na areia num lamento
frases feitas, recordações baratas
simplórias, de outros tempos
livro exposto ao vento
as folhas passam
pensamentos

da janela, vejo o mar
ouço seu silêncio
entre dois apartamentos...


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Leme
(Carlos Pedala)

o mar chega à janela
vãos de cimento se precipitam
e o interceptam
oceanos, sonhos, navios
todo estranhamento

o mar chega à janela
o horizonte é compacto
por que as coisas são assim
ondas infinitas
silêncios, movimentos

o mar chega à janela
e se mantem recuado, distante... 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

a luz se faz
(Carlos Pedala) para meu amigo Antônio Carlos Teixeira

escrevo o agora
não deixarei pra depois
nem resgatarei o que ficou pra trás
é insignificante o nada da gente 
que já não é mais

ouço a canção
finda há dois instantes
do amigo desafiador
alucinado e em paz
que já não é mais

a moça ao seu lado,
coisa mais linda!
e a poesia do novo rapaz
que é e já não é mais

escuto a sua voz
a me dizer
na delícia da dor 
a luz se faz...


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

hata-yoga
(Carlos Pedala e Pedro Sena) Para Prof. Hermógenes

relaxa
afrouxa
amolece

relaxa
afrouxa
amolece

relaxa
afrouxa
amolece... 

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Zona Sul
(Carlos Pedala)

dobrei a esquina
deparei com o mar
toquei na brisa
nas ondas da camisa
nas ondas do mar
em ser alegria
em susto de si salvar
em gosto de poesia
pescador na pescaria
gente a se dourar
nus ao Sol
Rio de Janeiro da beleza
na favela a alegria
nos jornais essa tristeza
de montanha e covardia

dobrei a esquina
deparei com o mar
toquei na brisa
nas ondas da camisa
nas ondas do mar... 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Rio Bonito
(Carlos Pedala)

em Rio Bonito corre um rio
rio de palavras doces
com jeito de murmurinho
pios de passarinhos
lugar bom de ser criança
do pintar de Dominguinhos
lá a amizade é festança
há o sítio do Totonho
e a casa do Julinho
a Lua ilumina a esperança
nos céus de Lumiar
mora sem morar
mula-sem-cabeça
saci-pererê e boi-tatá
no frio, bebe-se cachaça
no calor, vinho
vendo a Via-Lacta  
mergulhamos na felicidade  
e na ilusão do amor ser
a força maior da realidade... 
fim de baleia
(Carlos Pedala)

a baleia chegou à praia
amorfa, sem pé nem cabeça
a baleia chegou morta
a banha esparramou-se na areia
a baleia esteve presa
com esplendorosa paciência
aguardando uma ambulância  
num delírio do instante
a baleia pode explodir
a baleia é linda quando nasce
e azul quando amanhece
a baleia é jubarte
nadou nos sete mares
pra findar nos Bandeirantes
tão suave e estonteante... 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

consciências
(Carlos Pedala)

esse silêncio
do pensamento
passando por entre portas

hesitação
o comércio em suspenso
tempero sem ambição de firmamento
lá pelas quatros horas (da manhã)

a constatação do tempo
esse mesmo tempo de sempre
nessa escuridão
tantas fechaduras trancadas
guardando
nossas guardados...