A Egas Moniz
(Fernando Pessoa)
Ainda há do teu sangue em
minhas veias
E que pouco eu sou teu,
longínquo avô!
Da tua alma leal que longe
estou
E da inércia e da dúvida em
que teias!
Tu tinhas, creio eu, poucas
ideias
Mas seu ser natural tua alma
achou,
E eu, que me sondo, nunca sei
quem sou
E vivo as horas de incerteza
cheias.
Qual mais nos vale – a inconsciência
forte
Ou esta débil consciência
fria
Que em nós pergunta qual o
nosso norte –
Penélope interior que álacre
fia
O aparente linho da sua sorte
E à noite anula o que fio de
dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário