quinta-feira, 6 de junho de 2013

ESPECULAÇÕES EM TORNO DE DRUMMOND

Especulações em torno de Drummond
(Marcus Vinícius Quiroga)


Onde Drummond?
Por onde vaga divagando?
Ou o que desta vez nos indaga,
entre coisas e palavras?

O legado de seus poemas
se encontra sem inventário,
à mercê das leituras.
Entrega-se a mãos
que exercem ofícios,
impróprios para fugas.

De onde Drummond extrai
tanta substância
para o seu pensar?
De que Minas metafísica -
a única que ainda há -
e suas águas subterrâneas,
recolhe as pedras
sujas do barro humano?

Os seus bens não cabem
em canastras, não descansam no chão
das plataformas de trem.
O poema não é refém de caixas,
cofres e assinaturas,
feito que é de uma espécie de nuvem.

Aonde Drummond vai,
quando se levanta da forma
de estátua em Copacabana?

Logo ele, tão arredio
a este contato de fãs e fotografias,
cedo se cansa e se esconde
numa onda desatenta,
e poucos veem que é Drummond
quem ali vai, mineiro no mar.

O que sonda Drummond
com tanta pergunta,
tanta especulação?
Que mania de inquirir,
de querer ir a fundo!
A superfície não basta,
mas outros mundos mais vastos
se espalham sobre sua escrivaninha.
E Drummond cifra-decifra-cifra
segredos da língua,
ou passeia por labirintos
e retorna à página
com sortimento de signos
e minerais sentidos.

Onde Drummond?
Onde sua sombra o projeta?
Detrás de quais óculos?
De qual semblante sério?
Em que pensa agora
que tem tanto tempo?
Decerto nas coisas findas
que são as que ainda e sempre
permanecem eco?
Onde Drummond
assina o ponto,
como se não fosse poeta?
Mas, exemplar funcionário,
seleciona textos para pastas:
um livro póstumo.
Ele se despede,
se disfarça em concha,
tão longe de Minas.
Mas carrega leve
preciosos minérios
em outros cadernos.

Onde Drummond
faz de conta de que não é eterno?


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