segunda-feira, 16 de setembro de 2013

DEPAISAMENTO

Depaisamento
(Marcus Vinicius Quiroga)

O vagão para.
Uma estranha me olha da plataforma.
O olhar parece uma pergunta que passa pela porta.
No bolso esquerdo do blazer o coração entreaberto.

Quantas vidas se cruzam num metrô de outra língua?
Um carimbo no visto, espécie de licença para existir,
me diz que não pertenço a este destino.

 O instante é múltiplo.
Não cabe na blusa da mulher que me fita sem susto,
como se já esperasse o desencontro.

Antes que a porta se feche,
salto em outro país, com um pedido de asilo.
Me dispo da bagagem e das histórias, me despaíso.

Solto palavras pelo piso escorregadio da plataforma.
e elas se tornam uma frase intraduzível.


Mas cabem no corpo que para outro imigra.

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